quinta-feira, 2 de março de 2017

OUTONO


OUTONO

Entrou no outono da vida
com os receios de criança,
que descobre o fascínio de andar.

Eram tantas as mudanças
as que via e as que sentia,
tanto o medo, tantas as descobertas,
que atreveu-se a conhecer aquele novo Eu.

Era o corpo que se arredondava
e reclamava, insurrecto,
espaço e visibilidade.

Era o desejo,
que meticuloso se adensava em mistérios e exigências,
mandão,
soberano.

Era a volúpia dos sentidos ,
nos gestos e na gratidão
mas também no pragmatismo de uma nova missão.

Mas era sobretudo aquela bebedeira de ternura
que lhe escorria pelos dedos,
como mel em fio sobre torradas,
ante o espanto no olhar que a fitava.

Aprendeu a gostar daquela languidez,
tranquila e sedutora como um gato ao sol,
e aprendeu a perceber que isso lhe  alimentava o sorriso
e lhe coloria a esperança.

Enterneceu-se por esse novo EU

e deu consigo a pensar,
que talvez,
apenas talvez,
o Outono da vida
fosse, afinal Primavera.

©Graça Costa



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