sábado, 29 de outubro de 2016

MAR

Espartanas, as gotas de orvalho acariciavam-lhe o rosto,
antecipando um solarengo dia de outono.

Mas a sua alma estava negra
como negro parecia o futuro,
e a mão que lhe oprimia as palavras.

Palavras dolorosas e quentes,
enfurecidas nos horizontes da memoria
e na fonte dos sonhos.

Sentiu-se insegura,
quase patética,
numa fragilidade infantil
em que não se reconhecia.

Como pérolas
recolheu as gotas de orvalho,
uma a uma,
quase a medo
e ante aquela pureza vestal
ousou criar a alquimia da vida.

Juntou o sal dos olhos
ao sussurro da alma aflita,
e mesclou com um grito de esperança…
ténue esperança,
mas ainda assim…
esperança.

Juntou ao olhar e aos sentidos
a paleta de cores do universo,
e junto ao lago, agora feito mar,
largou, o negro
como quem larga uma capa usada e gasta pelo tempo e pela dor.

Depois,
envergando apenas a subtil beleza da nudez acabada de parir
encontrou a razão…
a razão de ser,
a razão de estar ali,
a razão de ser quem era.

E porque a razão tinha razão…
deu a si mesma a oportunidade
de renascer.

Mergulhou naquele mar
salgado como a vida,
doce como um beijo,
revolto como a paixão,
misterioso como o milagre
do ritmo sereno das marés
e navegou,
usando a rota do sonho
plantada no interior de si.


©Graça Costa
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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

DIAS

Tem dias em que escrevo as dores que não consigo chorar.
Noutros,
os sorrisos tecidos a pincel,
adocicados por lágrimas mescladas de amor e mel.

Escrevo porque a alma grita,
porque o coração fala
o olhar reclama
as mãos pedem
os beijos ardem
e as palavras guardam.

Nesses dias a caneta rola-me nos dedos
como crianças em dança de roda
e tenho que as libertar,
senão sufoco.


©Graça Costa


terça-feira, 25 de outubro de 2016

PROMISSE ME

Promise me
you'll paint the horizon
with september colours
and autumn scents.

Dress me
with red golden leaves
and make dance in your arms
as if I was a newborn bird who lost its mother.

Promise me
you'll be
my shelter
and my home,
my lover, and my friend.

Stay inside me,
forever and always,
because without you,
days are grey
and nights are pale.

Stay...
Because melodies of surrender
are made at nightfall,
and those miracles only happen
when soulmates like us
are around.


©Graça Costa
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PELE

Pele…
Tela de paixões inquietas,
magia serena em noites calmas,
feiticeira dos dias que nascem sem porquê.
Pele, poema.
Pele, canção.
Pele,
sinfonia de Outono em pleno verão.
Pele em espera.
Pele em escuta.
Pele sedenta da fonte das tuas mãos.
Pequena gota de orvalho,
alimento da flor da madrugada.
Pele...
Ternura.
Silêncio.
Paz.
©Graça Costa
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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

SE SOUBESSE

Se eu soubesse definir o amor
seria triste, porque pequeno.

Se eu soubesse descrever o amor,
a pagina estaria em branco
e eu estaria a sorrir.

Como definir aquele segundo em que tudo para ?
Como descrever o arrepio na pele ?
Como dizer a doçura da tua boca?
O agridoce meio selvagem da pele molhada,
depois de me perder no teu corpo ?

Não sei…
Mas se soubesse
não o diria…

Não, não o diria.

Cada um sabe quando e como sente a magia,
a ternura,
aquela quase dor da paixão
a pele inflamada,
os sentidos em chama.

Sentido da vida em forma dual.
Prazer da descoberta ao segundo,
em cada dia que nasce.


©Graça Costa


AQUI ESTOU

Aqui estou,
no desejo do que sou
e no que ficou depois de ti,
enroscada no lamento da esperança
que morreu antes de ser mar.
Aqui estou,
com a sede à flor da pele
e a fome escondida na razão que já não é.
História por escrever, ainda que sonhada,
por viver, ainda que já sentida,
desenhada na aurora desflorando a noite.
Aqui estou nesta travessia de mim,
em busca do nós que já fomos
e do amanhã que inventamos,
em cada amanhecer.
Aqui estou,
no esplendor da nudez do fim da tarde
esperando a magia do toque,
da tua,
na minha pele.

©Graça Costa
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domingo, 23 de outubro de 2016

AMAR

Profético,
o sopro poderoso da fome
serpenteia-me o corpo envolto na bruma,
lacónico,
esfíngico,
quase prece
quase súplica.

Numa emergência de afectos por saciar,
procuro no teu olhar a promessa da abundância
neste meu corpo feito terra lavrada
para te receber.

Profético,
o Inverno de sementeiras
feitas pela tua mão.

Profética,
a linguagem universal do Amor,
quando arrancada das profundezas do SER...
esteio do caos,
perante o esplendor da vida
que começa a chegar ao amanhã.


©Graça Costa


A INVENÇÃO DA ESPERANÇA

Trazia laivos de esperança espetados na dor,
memorias longínquas de sorrisos
que os lábios tentavam esboçar
na ténue tentativa do recomeço.

Trazia também o peso dos dias de noites eternas
em que implorava o sono
e na sua ausência pintava paisagens de luz e cor
onde sonhava acordada uma vida por inventar.

Sabia que as papoilas que trazia nos lábios
a pele de marfim e os olhos de mar
eram os seus únicos tesouros.

Sabia também que a dor a tornara guerreira.
Por isso resistia.
Por isso insistia.

E quando todos lhe negavam o olhar, sorria.

E sorria ainda mais,
porque nos confins do sentir
só ela sabia que o seu refúgio de luz e cor
tinha gente dentro.

Tu habitavas por lá…

©Graça Costa


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

VOU

Com a poeira da espera
enfrentei o corpo nu transcendente de afectos.

Que amante é esta
que o amante espera em súplica,
quase prece,
quase dor ?

Que viver é este
prenhe de desejo,
alma na voz
e pele em chamas?

Aguardo,
com o corpo raiado de estrelas em dor
e o olhar crivado de esperança
pelo entardecer que me mereça.

No fio da noite
a brisa impele-me o voo.

Não sei se fique se ouse.
Lá longe sinto o ritmo compassado de ti,
que num sussurro hipnótico me chama.

Tremo na antecipação de te ter,
e de sorriso em riste,
tomo balanço...
e vou ...

©Graça Costa
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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

FEEL ME

Run through the streets of my body
as if it were your town.
Find out the details of regret.
Board on the destination you deny,
but you can't avoid.

Feel me ...
Engage yourself in the heat of the skin,
in the groans that night silences
and the sea breeze consent.
Dare smiling to the unknown who calls you.

Hear me,
between the silence and the shout.
Learn with me speechless feelings.
Lets Invent a new language,
serene and fluid like the glitter look,
after love shared
on the turning of the tide.


©Graça Costa



ESCREVO-TE

Escrevo-te
porque as palavras não chegam para o que sinto…
são pequenas e banais
gastas,
supérfluas ,
incoerentes, frugais
e eu preciso delas fortes,
intensas, enormes,
eruptivas,
terapêuticas,
balsâmicas.
Escrevo-te porque as palavras que tenho para ti não têm nome.
Trago-as embaladas no peito,
presas na garganta,
gravadas na pele,
como gotas de suor após a tenaz luta do amor.
Escrevo-te com a alma nas mãos
esperando que me estendas as tuas.
Que me agarres ,
que me envolvas,
que me penetres os sentidos
com a emoção da aurora rompendo o dia.
Escrevo-te,
porque os meus olhos estão mudos
e a boca grita silêncios vários.
Só estas mãos insistem em riscar o papel
na implacável dança de aromas e sons com que construo os dias.
Escrevo-te para que me recordes assim,
despida de tudo,
despida de mim,
barro nas tuas mãos,
mosto por fermentar,
inacabada,
em espera...



©Graça Costa
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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

OXALÁ

Existe no silêncio
um luar de nuvens mansas
uma alma secreta de murmúrios vestida
uma doçura tamanha,
que só de o prever já me embalo
do seu sentir.

Só quem conversa com o silêncio
tem alma para sentir o poema
que antes de o ser já dança na retina
já penetra a pele com a intensidade de um beijo
e desperta a fome do amor vivido em firmamentos distantes.

Oxalá a noite me doure os sentidos,
me crave na pele a vontade de me dar
e que o canto da minha voz, não seja voz
mas pele…
sedenta de outra pele.


©Graça Costa
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A VOZ

Há uma voz cá dentro
que me dita o poema,
que conduz a saudade da mão ao olhar
do toque,
à entrega,
da fome
à paixão.

Há uma voz cá dentro
que me conduz o sonho
e um sonho
que me conduz a ti.

A ti...
meu amor e meu chão,
meu refúgio e minha paixão.

Há uma voz cá dentro
que me encanta e me desencanta
me acolhe e me repele,
catadupa de afectos
rolando num turbilhão.

Há uma voz cá dentro
que me dita o poema
e o poema...
não és tu nem sou eu...
mas nós,
eternamente Nós.

©Graça Costa
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A NASCER-ME NA PELE


Sinto a poesia a nascer-me na pele,
a iluminar-me o olhar ,
e a queimar-me o sentir
como sol de verão.

Sinto o poema
desflorando a madrugada rumo aos meus dedos,
com alma
suor
e sangue
de um alfabeto por inventar.

Emoções e afectos feitas palavras,
ora quentes
ora serenas
ora lamento
ora gemido,
quase prece,
quase dor,
sensuais como beijo
dolorosas como noite de solidão.

Sinto a poesia a crescer-me na pele.

Toco-a ao de leve
e torno-a minha.

Salpico-a com perfume de amante inquieta
e de alma aberta,
partimos ambas ao encontro dos dias,
por ora, apenas sonhados
mas já amados
de tanto sentidos.

©Graça Costa
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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

PINCELADAS

Trago na pele
pinceladas de Agosto
tatuadas pelos teus beijos .

Na boca,
o sabor a Maio
e paisagens de Outono a brotar-me dos olhos.

Moldados pela brisa
passeiam-me pelo rosto
sorrisos rasgados de memórias
escritas nos sulcos das rugas adocicadas.
.
Dos sonhos com travo a canela,
guardo a textura dos dias enleada nos teus braços,
quando o futuro era uma tela em branco
e a vida,
um diálogo sem palavras de corpos cansados.

Trago na pele pinceladas de Agosto,
peço ao Inverno que termine a tela
e sorrio ao ver-te chegar.


©Graça Costa
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terça-feira, 11 de outubro de 2016

ANTES QUE SEJA TARDE

Antes que seja tarde,
quero saborear o amanhecer
lamber o entardecer
e mergulhar na noite.
Antes que seja tarde,
quero sentir ...
sentir muito.
Quero ser tudo aquilo que não fui
por medo,
cobardia,
insegurança,
preguiça.
Antes que seja tarde,
quero a fusão da pele
o brilho dos sentidos
as palavras pensadas
mas nunca ditas,
o medo da perda
e o sabor da conquista
a adrenalina da luta
a insensatez da procura
a loucura do momento
e o que fica depois da te ter.
Antes que seja tarde,
quero soltar as amarras,
olhar o horizonte
com alma de navegante
errante e inquieto,
galopar a brisa
partilhar com o vento
o desafio das marés
e partir.
Antes que seja tarde
quero viver...

©Graça Costa
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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A THOUGHT

Her mouth seemed a luxurious red strawberry.
Tasted like heaven,
like love freshly made still running in her veins
and caressing her skin.

From her lips
drops of tenderness
slipped through her body
gently
slowly like a butterfly wave
till gently die
in the memories of feeling.

©Graça Costa
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NO TEU OLHAR

Encontrei um perfume de poesia no teu olhar.

Sem saber como defini-lo
estendi-lhe o sorriso e bebi-o,
lentamente,
em silêncio,
como ritual sagrado.

Saboreei cada trago
com a dolência da paixão imprevista.

Deixei-me levar pelo arrepio da eternidade do momento.

Encontrei um perfume de poesia no teu olhar.

Vieste sem aviso mas com a força de uma maré viva
e eu recebi-te com a ternura de uma onda a beijar a areia.

Sem saber como te responder,
vesti-me de lua
coloquei nos cabelos pétalas de orvalho
e dei-me ao teu olhar em oferenda.

Depois anoiteceu…
e a noite é cúmplice de amantes inquietos.


©Graça Costa
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sábado, 8 de outubro de 2016

AS PALAVRAS

Sinto no eco das palavras ditas
todas as que ficaram por dizer.

As que morreram na garganta
e mesmo as que nem chegaram a sair do coração.

A todas guardo,
como tesouros enfeitados,
de lágrimas e sorrisos,
esperanças saltitantes
e decepções dilacerantes.

Gosto,
gosto das palavras,
da sua promessa de jogo incerto,
tecidas em brocado rosa carmim.

Gosto,
gosto da sinfonia das letras dançando nas pontas dos dedos.

E gosto,
mas gosto mesmo,
da paz que encontro quando abro o peito
e as deixo fluir,
dançando
qual onda em tarde de maré viva.


©Graça Costa


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A CHEGADA

Gravei na noite
o teu corpo em chamas.

Nele mergulhei
como em terra molhada
adocicada pelos beijos que não dei.

Guardei-os na pele e o olhar
como diamantes
e vesti-me de madrugada
para te enternecer.

Sussurrei  o teu nome,
letra a letra
macio como algodão doce
delicado como cetim no meu corpo nu.

Senti-te chegar com o dia que amanhecia.
Trazias no olhar o desejo da espera
e nas mãos as carícias guardadas pela saudade.

Chegaste cheio de ti,
e tão carente de mim
que o dia entardeceu
apenas
para os deixar amar.


©Graça Costa
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OLHOS

Falavam uma língua estranha aqueles olhos,
ora esmeralda
ora avelã ou azeitona de Elvas.

Falavam de afectos esquecidos,
memorias adormecidas,
sonhos perdidos nos confins da memória.

Talvez fosse medo...
medo de falar e não serem entendidos,
medo de gritar e serem acorrentados,
medo de sussurrar e ninguém ouvir,
e por isso falavam aquela língua estranha.

Estranha a língua dos eleitos,
a dos que ousam ter no peito um coração que bate
ao ritmo da neve numa noite de inverno,
e usam a melodia do amor para soletrar
as palavras que aqueles olhos falam,
mesmo quando dos lábios só ouvimos,
o embalo do silêncio.




©Graça Costa


terça-feira, 4 de outubro de 2016

OLEIRA DE MIM

Memórias de um tempo distante....
Cara sardenta
olhos de mar,
pele trigueira,
mãos de luar
sorriso matreiro
música no andar.

Memórias de cheiros
palavras,
sons
rituais
e tantos…tantos mais.

Fragmentos de ser envoltos em maresia,
palpitantes de afectos,
dores,
sorrisos,
abraços,
lições e contradições.

Memórias...
espátulas do tempo em que me encontro comigo,
oleira de êxtase e dor 
que no esplendor da noite
se transforma e segue
em direcção a um novo amanhecer.


©Graça Costa


BEYOND WORDS


Dancing with the moonlight I was
when a scent of you
invaded my skin.

That unspeakable feeling
led me to a magic world of tenderness and affection
in which I give myself to you
and you give me back my all
shining like a star.

I arrived gently,
touched you slowly,
kissed you deeply,
grabbed your hands,
and led them to my skin on fire.

Heard you.
Your breath stopped.
You shivered of expectation,
your eyes seemed a lighthouse
and I just whispered at your ears:
I'm here
make me yours.

Heard you weeping
and your tears and lips
painted my body
with pleasure beyond words.


©Graça Costa
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