terça-feira, 31 de janeiro de 2017

SORRISO DE MADONA

Ao longe 
aquele corpo vestido de lágrima,
exibia o enigmático sorriso de madona,
meio riso, meio dor
meio palavra, meio torpor.

Verdadeiramente hipnótica,
aquela visão de mulher vestida de lágrima,
qual viúva vestal
na beira da praia.

Não sei se dançava ou se chorava,
Se gritava, ou se rezava.
Na verdade, nem sei sequer se existia,
ou era nuvem passando
no horizonte do dia que morria.

Aproximei-me…
A beleza singela da imagem,
colou-se-me no olhar
e invadiu-me os sentidos como calor de fogo por dentro.

Ali fiquei,
qual onda beijando a areia
olhando aquele corpo vestido de lágrima.
E de tanto olhar reconheci aquele estado de alma; 
aquele rosto que espreitava pelas brumas da memória.

Vesti a lágrima…
e parti com ela,
levando comigo o enigmático sorriso de madona.

©Graça Costa


domingo, 29 de janeiro de 2017

OS RIOS DO MEU CORPO

No meu corpo correm rios de afetos partilhados
e outros ainda por desbravar.

Nas suas margens, nenúfares e chorões
abraços e canções,
melodias de outono sereno
estendendo os braços ao por do sol
refletido na placidez das águas.

Nelas, correm também rios de dor
na sua lenta caminhada até ao afluente do rosto.

Aí …desaguam,
transbordam,
rebentam comportas que ninguém vê e só tu sentes,
ecoando no silêncio surdo e melancólico do olhar.

Alguns tornam-se riachos e acabam por secar.
Outros agigantam-se e levam-te na torrente.

Nesses dias o corpo deixa de ser corpo
e passa a ser maré viva,
vento norte
tempestade,
luta,
desespero,
naufrágio.

Assim é a vida
e os corpos que nela vivem.
Nuns dias sol,
noutros trovoada.

Por vezes amor, ternura, paixão.
Outras vezes,
vazio,
quase nada,
ilusão.

Meu corpo,
meu rio…
serpenteando nas veredas do sentir
até ao mar dos teus olhos


©Graça Costa
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PROCURO

Procuro no tempo,
o tempo em que o teu olhar
era a ampulheta dos sonhos
que sonhámos juntos.

Procuro no tempo,
o tempo em que do toque da pele
nascia a magia do entardecer
e no beijo trocado,
ternura aos pedaços
guardada na memória de dias errantes.

Procuro no tempo ,
o tempo em que na escuridão da noite
segui os teus passos
e na melodia do bater do coração te encontrei.

Procuro-te no tempo que foi
e no que há-de vir,
porque sem ti na minha pele
não existe amanhecer.

©Graça Costa
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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

NA ROTA DO SONHO

Espartanas as gotas de orvalho acariciavam-lhe o rosto,
antecipando um solarengo dia de outono.
Contudo, a sua alma estava negra,
como negro estava o futuro,
como negra a mão que lhe oprimia as palavras.

Palavras dolorosas e doentes,
que lhe dançavam enfurecidas nos horizontes da memoria
e na fonte dos sonhos.

Sentiu-se insegura,
quase patética,
numa fragilidade infantil
em que não se reconhecia.

Como pérolas
ou mesmo diamantes
recolheu as gotas de orvalho,
uma a uma,
quase a medo
e ante aquela pureza vestal
vislumbrou  a alquimia da vida.

Juntou o sal dos olhos
ao sussurro da alma aflita,
mais o grito de quem está a parir um pequeno deus
ao qual juntou um outro grito de esperança.

Ténue esperança,
mas ainda assim, esperança.

Juntou ao olhar e aos sentidos a paleta de cores do universo
e junto ao lago,
agora feito mar,
largou o negro,
como quem larga uma capa surrada e gasta pelo tempo e pela dor.

Depois,
envergando apenas a subtil beleza da nudez acabada de parir
encontrou a razão,
a razão de ser,
a razão de estar ali,
a razão de ser quem era.

E porque a razão tinha razão,
deu a si mesma a oportunidade de renascer.

Mergulhou naquele mar,
salgado como a vida,
doce como um beijo,
revolto como a paixão,
misterioso como o milagre do ritmo sereno das marés
e navegou,
pela rota do sonho,
plantada no interior de si.




©Graça Costa
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NESTA MANHÃ

A manhã acordou cedo
e mandei-a embora.

Era cedo,
demasiado cedo para me soltar de ti.
Demasiado cedo
para ter a solidão por companhia
e a dor da perda
como ferida aberta sufocando-me o peito.

Rebelde fiz-lhe frente.
Olhei-a nos olhos
e esbofeteei-lhe a ousadia de vir sem ser pedida.

A manhã acordou cedo
mas mandei-a embora.

Fechei as cortinas…
voltei a cobrir-me com o manto da noite
enrosquei-me no calor do teu abraço
e voltei a dormir,
como criança depois do colo.

Agora acordei…
Lá fora o sol já dorme
mas dentro de mim brilha como diamante.

Tu estás a meu lado…
e eu enganei a madrugada.


© Graça Costa
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

AT DAWN


There was dawn
and all its possibilities.
There was me
naked as breeze
waiting for feeling
your breath on my skin;
waiting for that shiver
that makes it all worthwhile.

There was you
with your bright shining eyes
with that smile the melts my being
with that look
that makes me want to die in your arms.

There was dawn
and all its possibilities
and there were we
with this all new day of the endless love
built each time we made love
and our bodies and soul
connected with the universe.


© Graça Costa
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SILÊNCIO

Façam silêncio...

Vejam o poema que nasce
naquela boca carnuda
como morango silvestre em pasto verde.

Vejam a forma como se move,
como insinua o beijo sem o dar,
como inflige dor sem tocar,
como aguça a fome sem falar.

Vejam como as palavras são excessivas,
perante uma gota de suor
descendo pelo peito,
para morrer subtilmente onde a vida começa.

Sintam a magia de uma alma consumida pelo fogo de paixão
libertando-se das amarras
para com ela escrever a melodia de um refrão.

Sintam…
mas façam silêncio
que a obra nasce sem ser pedida,
e o sabor das palavras
é apenas o tempero colorido do silêncio,
com que pintamos as telas da vida.


©Graça Costa
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CORPO POEMA


Do meu corpo nascem poemas cantados .
A cada toque, a pele responde com um grito surdo,
meio gemido,
meio lamento
meio sussurro
meio tormento.

A cada beijo, reinvento-te,
reinvento-me.
Saboreio-te como saboreio o poema,
letra a letra,
palavra a palavra,
rima a rima
ou rima nenhuma
mas lenta e suavemente
como tango dançado à luz do luar
em noite de verão.

Depois, volto e ler-te
e afago lentamente as palavras
que te acendem a paixão
e que te prendem a mim.

A ti me colo,
meu poema meio escrito,
por vezes gemido,
outras sussurrado,
e assim adormeço,
sem saber se durmo
ou apenas descanso
nesse teu colo feito cama,
só para me receber.


©Graça Costa
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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

ONDE A SOLIDÃO TERMINA

Deixaste-me na boca um sabor a espanto,
na pele a súplica do desejo inacabado,
e a fome de mais que o dia levou.

Deixaste-me no olhar um sopro de maré viva,
uma tempestade de afectos incontidos
clamando pela noite
ou apenas pelo som dos teus passos na escuridão.

O dia passou,
lento e soturno
mas dentro de mim,
sempre o sol
com os seus lábios de silêncio
e o paraíso no olhar,
envolvendo-me no fogo da espera
do tanto que te quero.

Depois o dia caiu no horizonte
deixando no ar promessas guardadas
no ontem que não chegou a ser.

Esperei-te.
Esperei o teu abraço
naquele quê de dia em que a solidão termina.

Deixei-me envolver no rendilhado 
dos dias sonhados antes do amanhecer
em que os teus braços são cama
e o meu corpo
poema
pintado pelo teu olhar
colado no meu.


©Graça Costa


domingo, 22 de janeiro de 2017

VEM

Anda...
bebe nos meus olhos
o néctar das flores de outono,
quentes e doces como mel coado
em pão acabado do cozer.

Anda,
sacia-te,
que o tempo anseia pelo teu sorriso
e eu também.


©Graça Costa



sábado, 21 de janeiro de 2017

NO TEU OLHAR

Encontrei um perfume de poesia no teu olhar.

Sem saber como defini-lo
estendi-lhe o sorriso e bebi-o,
lentamente,
em silêncio,
como ritual sagrado.

Saboreei cada trago
com a dolência da paixão imprevista.

Deixei-me levar pelo arrepio da eternidade do momento.

Encontrei um perfume de poesia no teu olhar.

Vieste sem aviso mas com a força de uma maré viva
e eu recebi-te com a ternura de uma onda a beijar a areia.

Sem saber como te responder,
vesti-me de lua
coloquei nos cabelos pétalas de orvalho
e dei-me ao teu olhar em oferenda.

Depois anoiteceu…
e a noite é cúmplice de amantes inquietos.


©Graça Costa
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SEM RESERVAS

Acolhe-me no teu corpo
como se fosses berço para o meu descanso.

Embriaga-me de carícias e palavras soltas,
doces, ternas, serenas,
mesmo que sem sentido.

Coloca na voz
a musica das almas cansadas,
e acolhe-me no teu corpo
como se fosses mar
e eu maré,
como se fosses onda
morrendo na praia
e eu a praia para te receber.

Acolhe-me,
que eu a ti me dou
sem medos nem reservas,
corpo aberto ao encontro de almas
que só a ternura percebe.


©Graça Costa
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O POEMA

O poema nasce de um quase nada
onde cabe um quase tudo.

Nasce de um som,
um gemido,
uma lágrima,
um sorriso,
uma porta entreaberta
cheia de sonhos secretos,
uma carícia,
uma flor,
uma palavra
ou apenas cor.

O Poema é dor e espanto
alegria,
desencanto.

É silêncio em que me escondo;
é chama
desejo,
paixão,
encontro, desencontro, vulcão.

Nasce de um quase nada
onde cabe um quase tudo.

Com ele me visto,
porque dele sou
refém,
irmã,
amante.

©Graça Costa

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

THE PATH


Doing my path I was
slowly
step by step
sometimes dusty
sometimes like a field of hope.

My wings were free
as free was my soul
and so I kept on going
searching for that cloudy house
on the top of a hill.

Doing my path I was
dreaming of you
t'ill one day
merging the sky
I saw that white house of my dreams.

I knew you were there
the path took me to you
and so I smiled
like the sun
peeking through the clouds.


©Graça Costa


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

CRESPÚSCULO


Carregava o crepúsculo no olhar,
quase fardo,
quase dor,
quase esperança.

Como numa melodia de saudade
Sussurrava palavras de silêncio
Envoltas em lágrimas
e seu corpo ondulava
como numa quase perfeita
imagem de oração.

Ela carregava o crepúsculo no olhar
e quando sentiu o apelo da noite
deixou o corpo flutuar
como uma pena ao sabor da corrente.

Deslizou para o colo daquele anjo
com os braços de ternura e pele de cetim
e ali ficou saboreando o dia que adormecia

Cansaço.
Era tanto cansaço,
que as estrelas brilharam mais forte,
apenas para lhe  iluminar o sono.


©Graça Costa
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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

DO POEMA

DO POEMA

Doce o sorriso
derramado no mundo em mutação do poema,
onde a palavra escorre sem ser pedida
livre como lava de vulcão lambendo as entranhas da terra.

Sinto a dor das palavras
acorrentadas na bagagem da memória
à espera do acordar,
e embalo-as com ternura de mãe.

Suplicam sol,
vento,
maresia
turbilhão de afectos,
melodia,
encontro de almas,
arrepio,
corpos em chama,
emoção.

Anseiam liberdade,
mesmo que nesta esteja o espectro da morte,
a dor do nascimento,
ou a metamorfose da paixão.

Dor.
Raiva.
Ternura.
Partilha.
Entrega.

Mágico,
o mundo em mutação do poema.


©Graça Costa
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AMO-TE


Amo-te
como certas coisas
são para ser amadas,
em silêncio sagrado
entre a delicadeza da sombra
numa tarde de verão
e o desvario da paixão
numa noite de invernia.

Amo-te
como certas coisas
devem ser amadas.
Em movimento lento
suavemente
por entre sussurros
desejos e sonhos
sem tempo nem lugar.

Amo-te assim
devagar,
saboreando cada toque,
cada olhar,
cada entrega,
por inteiro.

Amo-te assim,
porque não te sei amar de outra maneira.


©Graça Costa
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

NA TUA PELE


Tão bom,
Acordar e ter o teu rosto
a sorrir para os meus olhos.
Estender os braços
e ter a tua pele
a abraçar a minha pele.
Fechar os olhos
e ter os teus lábios
sussurrando paraísos distantes
aqui tão perto.

Tão bom,
entrar no corredor do dia que começa
e encontrar o abraço dos teus olhos
a guiar-me o caminho,
a luz do teu sorriso
a incendiar a aurora.

Sinto o amor
no livro da tua pele
e nela a tentação de ficar
assim
saboreando casa silaba,
cada pronome
cada interjeição
escondida nesse corpo que se me entende
em oferenda surda.

Porque cada dia na tua pele
é sempre uma primeira vez
Fico…
saciada
por ora,
antecipando nova pagina
da tua pele em mim.


©Graça Costa



sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

DANÇA LENTA

Apetece-me dançar.
Uma dança lenta como o amor em dias de paz.
Uma dança terna como violetas ondulando na maré verde da planície.
Uma dança suave como beijo que emerge das profundezas do ser.
Uma dança quente como o olhar cúmplice dos amantes.
Apetece-me ser tua.
Entregar-me à voragem da fome que queima por dentro,
que humedece os lábios, seca a garganta e incendeia o olhar.
Apetece-me viver,
com a intensidade de quem sabe que o amanhã pode não chegar,
mas com a calma de quem saboreia cada olhar, cada toque, cada beijo
como se de obras de arte se tratassem.
Apetece-me dançar.
Soltar as rédeas da imaginação,
libertar as amarras do sentir
olhar a nudez e sorrir.
Descobri que só nua de mim
me encontro verdadeiramente comigo e me descubro.
Talvez insegura,
talvez amedrontada
talvez ousada,
talvez inquieta, curiosa,
ou até mesmo vaidosa,
mas seguramente mais inteira.
Visceralmente… Eu.
Apetece-me dançar.
E vou…

©Graça Costa
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

FILHA DA TERRA


Filha da terra
me entrego
ao rio de energia que envolve os corpos 
e os enche de luz,
fome de partilha,
cor
e aroma de paixão.
Pobre de quem vive sem viver.
Pobre de quem ama sem sofrer.
Pobre de quem ouve sem escutar.
Filha da terra me entrego à vida.
Barro a ser moldado pelo sentir,
pelas tuas mãos feitas extensão de mim.
Filha do Universo sou.
Partícula de amor suspenso,
incondicional,
difuso,
cristalino,
elemento dos elementos
com que a vida se constrói.
©Graça Costa


quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

AND SUDDENLY...

And suddenly...

Suddenly
you're melting eyes
struck me like a hurricane.

Feel naked...
felt good
almost if someone
was painting my body with a silky brush.

Your eyes struck me
and I stopped breathing.
Your hands reached me,
and all of became
a brand new spring
flourishing in my skin.

Your eyes became my eyes
my skin,
your skin,
and our passion
a perfume of surrender.

The day turned night,
but in our world
an eternal dawn was the only witness.


©Graça Costa
imagem da web - Yossi Kotler


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O BEIJO

Beijas-me como o escultor
que acaricia o barro
para nele se fundir
devagar
como o entardecer.
Nas tuas mãos sou terra
mar e ar,
elementos em fusão
sem pressas,
sem lamentos.
Nas tuas mãos respiro
ao ritmo dos dedos
com que me envolves
e neles me derreto
como orvalho ao amanhecer.
Mais tarde,
agarro a cumplicidade da noite.
A ela ofereço os murmúrios que
no torpor da paixão
arrancas do mais fundo de mim.
Saboreio o desejo
que pressinto os teus olhos
e colo-me a ti num beijo quente,
longo,
lento,
porque há beijos mais profundos do que o mar

©Graça Costa
imagem - Kiss, Andy Warhol, 1963.

OUTRAS PALAVRAS

Trago caladas no peito
palavras que não conheço.
Afetos sem nome 
como amoras maduras
prontas a colher.
Nesta imensidão de mim,
escondidas nos recônditos da alma,
tenho guardadas,
quais tesouros,
estas palavras ainda por inventar.
Corro para aquele mar que só eu vejo.
Hipnótico e sedutor
conduz-me a ti
e eu vou…
Neste bailado de ondas e marés
seguras o meu corpo,
e nele nascem
 claras e cristalinas
estas palavras em forma de sorriso.
Soltam-se da garganta numa língua que desconheço,
com a transparência de diamantes ao luar
e a delicadeza de abraços infantis.
Dancemos então…
embebidos no néctar deste tango
agora inventado,
e deixemos que o amor aconteça,
hoje,
amanhã
outro dia,
aqui…
ou nalgum anel,
de um qualquer Saturno distante.
© Graça Costa
IMAGEM DA WEB


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

GUARDO


Guardo no olhar o rasto de luz da tua pele
deixado pela minha boca,
o gemido rouco,
o abraço forte.

Guardo no olhar o fogo dos teus olhos em súplica,
a ternura do teu toque,
o rendilhado dos afectos
e o teu sono, quase infantil depois do amor.

Guardo,
porque as memórias são pedaços de vida
mesclados por sons e sabores de momentos únicos;

Guardo,
porque guardando
tatuo na retina
o amor que já foi chama
e hoje é apenas ternura,
mas forte e poderosa
como a alvorada,
rompendo a aurora.


©Graça Costa
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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

ANTES DE TE VER

 Acordo
e sinto-te antes de te ver.

Na penumbra,
o perfil do teu rosto,
o sorriso quase infantil, o calor da pele
e o teu perfume,
doce e almiscarado como chocolate quente
saboreado à fogueira.

Acordo
e finjo dormir
para prolongar o sonho.

Relembro a maré mansa e luxuriante do beijo,
a fusão da pele,
o crescendo da paixão,
o êxtase,
a exaustão.

Relembro e sorrio
neste quase sono
que é quase fome,
num amanhecer brilhante
em que te sinto,
antes de te ver.


©Graça Costa
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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

PINCELADAS

Trago na pele
pinceladas de Agosto
tatuadas pelos teus beijos .

Na boca,
o sabor a Maio
e paisagens de Outono a brotar-me dos olhos.

Moldados pela brisa
passeiam-me pelo rosto
sorrisos rasgados de memórias
escritas nos sulcos das rugas adocicadas pelo tempo.

Dos sonhos com travo a canela,
guardo a textura dos dias enleada nos teus braços,
quando o futuro era uma tela em branco
e a vida,
um diálogo sem palavras de corpos cansados.

Trago na pele pinceladas de Agosto.
Peço ao Inverno que termine a tela
e sorrio quando te sinto chegar.


©Graça Costa
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DESEJO

Ah, como eu gostava de morar na tua pele,
acordar e adormecer nela
para não ter que falar.

Ah, como eu gostava
que o teu riso fosse a minha luz
que o teu grito fosse a minha voz
que o teu sono fosse a aminha paz.

Gostava,
Gostava tanto,
que a vida fosse melodia
que o dia fosse maresia
que o teu beijo fosse harmonia
mesmo se com um toque de nostalgia.

Ah, como eu gostava de morar na tua pele
De sermos sempre dois
Sendo só um
E a cada entrega
renascer
sem dor
sem trégua
sem voz, sem regra.

Apenas nós.
Apenas pele.


©Graça Costa
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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

SEM QUERER

Encontrei-te
sem aviso nem procura.
Senti-te na pele
e guardei-te no peito
antes de te ter.
Saboreei a espera
como quem contempla o amanhã
sem pressa
e construi-te de alma solta e coração aberto.
Da dor de acordar sem ti
fiz descoberta,
terreno fértil para este quê que crescia
e que eu sem te ver,
tanto sentia.
Encontrei-te
sem aviso
sem procura
sem querer.
Mas, a vida quis
e eu quis com ela.
©Graça Costa
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Poema dedicado ao meu marido Joaquim Cunha


IF I COULD

If I could be a star
I would travel a million light years
just to make your heart my home.

If I could be a sea wave
I would dance throughout the oceans
just to kiss your lips in the change of tides.

If I could be music
I would create endless love songs
just to see you smile.

But, as I'm your soulmate
I flourish like a landscape in springtime
and with all the birds and butterflies as witnesses
I will make a perfect dress
to the perfect day
of our next encounter.

My skin...
My shiny eyes
My wet lips,
that's all we need
to make miracles between the stars.

©Graça Costa
imagem : Loui Jover


NA PONTA DOS DEDOS

Acordei com as mãos entrelaçadas nas tuas
e parei de respirar só para te sentir.

Nesse encontro de pele e alma
senti a magia de um amanhecer sem pressas
e deixei-me levar pelo embalo da brisa
que lá fora batia o compasso do dia.

Das tuas mãos nasceu a descoberta do encontro,
a vibração emergente da paixão
visível no delicado tactear da pele,
na subtileza do toque,
no gemido terno,
na fome do beijo,
no previsível êxtase.

Tudo bebi , com a calma do amanhecer
e descobri que às vezes,
o amor começa…
na ponta dos dedos.

©Graça Costa
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

PAZ

Dá-me a tua mão
Sente-lhe a textura
o calor,
o aroma e a ternura do abraço.
Depois vamos.
Deixa que te leve
para além dos sentidos
para lá da saudade.
Deixa que te leve
para aquele lugar calmo
onde a dor não nasce
e o amor não morre.
Para aquele lugar terno
onde o corpo não tem nome
e o afecto tem forma de dedos,
de ternura,
e beijos
e pele em chamas.
Depois…
Depois fiquemos assim,
na magia do entardecer,
lambendo as palavras com que nos despimos,
e que estas cubram o horizonte
com a magia da esperança,
como sonhos de paz
embrulhados em sono de criança.

©Graça Costa
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