quinta-feira, 30 de junho de 2016

O ANÚNCIO DA PRIMAVERA

Hoje saí de casa
como em tantas outras vezes.
Saí com o sol no olhar,
a brisa na pele e a ternura nos ombros.
Saí porque o dia me chamava
com um ronronar felino pleno de promessas.

Dei comigo na beira do rio contemplando as margens,
as nuances de luz
e as cores do casario reflectido nas águas.

Dei comigo aspirando o aroma da primavera ainda imberbe,
mas tão cheia de expectativas,
e paixões ardentes
como papoilas beijando a beira dos caminhos.

Hoje saí de casa como saio tantas outras vezes,
mas não era eu que caminhava.

Era o corpo que me levava à descoberta da tarde.

E o corpo tinha magia,
voz de tenor ,
contornos de harpa,
aroma de campos silvestres,
e o valsear de corpos em fusão lenta.

Neste assombro me encontro,
prenhe de primavera
sorrindo ao fim de tarde que me escorre dos dedos.

Ao fundo,
o secreto fascínio da lua
com a sua nudez ,
sensual ,
insinuante,
temperamental,
inconstante,
leve e densa como a noite que lhe precede.

Hoje sai de casa como saio tanta outras vezes
e regresso
com a magia da noite entranhada nos sentidos.


©Graça Costa


terça-feira, 28 de junho de 2016

INEVITÁVEL

Neste meu corpo feito lua
serpenteiam caudais de estrelas cadentes sedentas de colo.

Neste meu corpo feito mar
navegam barcaças de afectos
em busca de costa onde aportar.

Neste meu corpo feito chão
te estendo um caminho recheado
de carinho,
paixões e afectos,
sem reservas
sem destinos.

Que nele me encontres
e te encontres,
te deleites
e me deleites,
me cubras de beijos
com tons de outono
e calor de verão.

Depois,
quando finalmente saciarmos a fome de corpo, alma e pele,
que o sono e o sonho
nos encham o coração de espanto
e expectativas de outras descobertas.

Inevitável,
perder-me no teu corpo...



©Graça Costa
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BRINCADEIRA

A manhã acordou cedo
e mandei-a embora.

Era cedo, demasiado cedo para me soltar de ti.
Demasiado cedo para ter a solidão por companhia
e a dor da perda como ferida aberta sufocando-me o peito.

Rebelde fiz-lhe frente.
Olhei-a nos olhos e esbofeteei-lhe a ousadia de vir sem ser pedida.

A manhã acordou cedo
mas mandei-a embora.

Fechei as cortinas…
voltei a cobrir-me com o manto da noite
enrosquei-me no calor do teu abraço
e voltei a dormir,
como criança depois  do colo.

Agora acordei…
Lá fora o sol já dorme
mas dentro de mim brilha como diamante.

Tu estás a meu lado…
e eu enganei a madrugada.


© Graça Costa
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BEIJO


Beijas-me como o escultor
que acaricia o barro
para nele se fundir
devagar
como o entardecer.

Nas tuas mãos sou terra
mar e ar,
elementos em fusão
sem pressas,
sem lamentos.

Nas tuas mãos respiro
ao ritmo dos dedos
com que me envolves
e neles me derreto
como orvalho ao amanhecer.

Mais tarde,
agarro a cumplicidade da noite,
A ela ofereço os murmúrios que
no torpor da paixão
 arrancas do mais fundo de mim.

 Saboreio o desejo
que pressinto os teus olhos
e colo-me a ti num beijo quente,
longo,
lento,
porque há beijos mais profundos do que o mar.


©Graça Costa

                                               Kiss, Andy Warhol, 1963.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

PARADISE

Loving you
is my subtle understanding of paradise.
Skin on skin,
touch of souls.
shiny lips
after a lifetime kiss.
Paradise is right here,
and its ours to take
if we have the guts to keep on
with nos ifs and no regrets.
Just love.
Just feel.
Just believe.


©Graça Costa
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COMO SE TIVESSEM BOCA

“ HÁ Palavras que nos beijam como se tivessem boca”,
na nudez da pele em chamas.

Coloridas, pastel ou grafite,
desenhadas neste corpo, tela;
neste corpo, poema,
neste corpo, matriz,
neste corpo agonizante,
abandonado à mercê das tuas mãos.

Palavras abandonadas
à mercê do teu carinho,
entregues à mercê da nostalgia
ou à loucura dos teus beijos.

Bendito este corpo que sente.
Bendito o arrepio da pele.
Bendita a troca de olhares que tudo diz.

Embrulhados em silêncio, assim ficamos
inventando palavras novas,
melodiosas,
insensatas,
incongruentes,
apaixonadas,
prenhes de desejo,
alfabeto da paixão.

Connosco…
ah, connosco ficará
a nostalgia da criação.


©Graça Costa
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domingo, 26 de junho de 2016

ANTES DE TE VER

Acordo
e sinto-te antes de te ver.

Na penumbra,
o perfil do teu rosto,
o sorriso quase infantil, o calor da pele
e o teu perfume,
doce e almiscarado como chocolate quente
saboreado à fogueira.

Acordo
e finjo dormir
para prolongar o sonho.

Relembro a maré mansa e luxuriante do beijo,
a fusão da pele,
o crescendo da paixão,
o êxtase,
a exaustão.

Relembro e sorrio
neste quase sono
que é quase fome,
num amanhecer brilhante
em que te sinto,
antes de te ver.

©Graça Costa








MOMENTOS

Há momentos que valem vidas.
Uma lágrima lambendo a pele,
suave e lentamente como uma carícia.
Um sorriso iluminando o olhar como farol no meio da escuridão.
Aquele arrepio da antecipação do prazer,
apenas imaginado, mas ainda não sentido.

Há momentos que valem vidas.
O primeiro olhar,
o primeiro toque da pele,
o primeiro beijo,
o soco no peito da primeira paixão,
o ar que precisamos desesperadamente beber e nos foge das mãos,
que geladas suam lágrimas de ausência.

A morte eminente do sentido da vida
quando não se está junto,
os minutos que se tornam dias, dolorosos,
quase lume,
quase ferida
aberta pela incerteza da espera,
mas sempre tão forte, tão intensa, tão dramática
como naufrágio em noite de tempestade.

Há momentos que valem vidas
pelo que foram ou não foram
pelo que são
pelo que serão.

Se ficar cicatriz,
ruga,
cabelo branco,
lagrima,
sorriso,
é porque valeu a pena…

Momentos…
tinta dos dias
com que vamos pintando
o livro da vida.

©Graça Costa
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sexta-feira, 24 de junho de 2016

CONTORNOS

Na penumbra apenas os contornos de ti
e o respirar lento e compassado de um sono
profundo como o mar
leve como brisa de verão.

A teu lado
aquela a quem roubaram o sono
e no torpor do cansaço te bebe a calma com um sorriso.

Contemplo-te na penumbra
e no teu rosto vejo paz.

No vai e vem do teu peito,
o colo para o meu embalo
onírico, terno, pueril.

Percorro-te com o olhar
o sorriso denuncia –te o prazer.

Despertas…
Como pétalas de estio
rumo ao amanhecer
cobres-me o corpo com beijos
e a noite…
deixou de existir.


©Graça Costa
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quinta-feira, 23 de junho de 2016

POESIA

Quem és tu a quem chamam poesia?
De quem és filha?
De quem és mãe?
Que trazes contigo para seres assim
tão única,
tão bela,
tão prenhe de sonhos
memórias
lagrimas,
amores e paixões ?
Quem és tu que me rasgaste os sentidos
e num rendilhado de mel e espinhos
me obrigas a deixar cair no papel
estas palavras
e outras
e tantas outras que sinto,
mas ainda não ouso falar ?
Não te conheço o rosto
mas sinto-te a alma nos dedos,
o perfume na pele em chamas
o feitiço do querer e não querer,
as amarras e o não conseguir esquecer.
Não te conheço,
amiga,
amante ,
irmã,
mas sei que te trago na pele,
e que sem ti fico nua,
como recém - nascido sem cama.
©Graça Costa


A TELA DO TEU SONHO

Anda…
Vamos nas asas do vento
ao encontro dos sonhos guardados
na palma da imaginação.

Não te deixes enredar na dor.
Foge dos dias sem luz
frios como escarpas afiadas
e procura…

Procura dentro de ti os aromas perdidos nas memórias.

Procura os sorrisos tecidos no bilro dos momentos guardados.
Anda…
Vem comigo viajar nas asas do vento.
Pede à brisa que os raios de sol te envolvam o sentir
e que a dor te caia dos olhos
em forma de chuva branda e serena.

Anda…
Vamos voar para lá do horizonte
inventar um mundo só nosso,
em que os dedos sejam pinceis
aguarelados pelo olhar da ternura.

Anda…
que tempo escasseia e o desejo é fome por saciar.
Toma a minha pele como tela para o teu sonho
e pinta a noite,
com as cores do teu olhar.


©Graça Costa


                                                      David Walker

DEIXA


Deixa
que a noite invada o horizonte das memórias,
e os dias sejam de eternos recomeços,
ainda que errantes ou incertos.

Deixa
que os teus passos me sigam
e que a paixão seja a melodia
dos caminhos por inventar.

Deixa
que o meu corpo seja tela virgem
para o arrojo dos sentidos
e lê nos meu rosto
o te digo no silêncio do olhar.

Deixa-me correr ao teu encontro
com a certeza que de sabes o que fazer
para a alma se sentir beijada;
com a certeza de que basta um olhar
para o arrepio da pele,
para a fusão dos corpos em chama.

Deixa-me sentir…
apenas sentir,
meu pintor  de corpos e telas,
paixões libertas,
momentos eternos,
gravados em segundos.


©Graça Costa
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sábado, 18 de junho de 2016

GOSTAVA DE TE DIZER

Gostava de poder dizer-te
que o amor que sinto é do tamanho do universo,
mas não posso...
O universo pode ser demasiado pequeno e tenho receio de errar.

Gostava de poder dizer-te que o desejo que sinto
tem a magia de uma manhã clara,
mas nunca fui manhã e não sei definir essa magia.

Gostava de poder dizer-te que a felicidade é eterna,
mas sei que não é...
tal como sei que as palavras que escrevo
são apenas letras pintadas de emoção
e embrulhadas de cetim.

Por isso não te digo o amor que sinto.
Deixo que o descubras
e que o digas por mim.

©Graça Costa


sexta-feira, 17 de junho de 2016

IF I COULD


If I could ...my love
I would give you the milky way,
coz this eyes have been seen things
you wouldn't believe.

But I'm only a poor passionate girl
and all I can give you
are my dreams.

Be gentle...
Treat them well
because you do not know
what they are made of...


©Graça Costa


BOLINA

Tem dias em que me sinto
como pena que caiu em folha à bolina.

Doce expectativa…
Qual o caminho ?
Por onde me leva a brisa?
Que aventuras me esperam ?
Que perigos?
Que desafios ?

Tem dias assim…
em que acordo em suspenso
perante o dia que desponta.

Sinto o sol na pele
e tremo.
A brisa no rosto
e sorrio.
O apelo dos afectos
e suspiro.
A tortura da tua ausência
e sonho.

Como a pena em folha à bolina
entoo ao vento a prece que me leve até ti.

Então, talvez…
apenas talvez,
consiga saciar a sede que a noite matou
e com a aurora,
renasceu.


©Graça Costa
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quinta-feira, 16 de junho de 2016

GUARDO

Guardo no olhar
o rasto de luz da tua pele
deixado pela minha boca,
o gemido rouco,
o abraço forte.

Guardo no olhar
o fogo dos teus olhos em súplica,
a ternura do teu toque,
o rendilhado dos afectos
e o teu sono, quase infantil depois do amor.

Guardo,
porque as memórias são pedaços de vida
mesclados por sons e sabores de momentos únicos;

Guardo,
porque guardando
tatuo na retina
o amor que já foi chama
e hoje é paixão e ternura,
forte e poderosa
como a alvorada,
rompendo a aurora.


©Graça Costa




PRIMAVERA NO TEU CORPO

Sinto a magia do dia que desponta,
pela forma como o teu corpo vibra
ao toque dos meus dedos.
Brinco nele como num teclado de piano.
Dele sinto brotar harmonia ou furacão,
a simplicidade de um beijo
ou a doce loucura da paixão.
Depois chamo a noite
quase em prece
na esperança do êxtase
que a tua fome promete.
Vem depressa
que o tempo não espera
e a magia da noite,
tem os tons de uma eterna primavera.

©Graça Costa
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quarta-feira, 15 de junho de 2016

COLO

Acolhe-me no teu corpo
como se fosses berço para o meu descanso.

Embriaga-me de carícias e palavras soltas
doces,
mesmo que sem sentido.

Coloca na tua voz
a musica das almas cansadas
e acolhe-me no teu corpo
como se fosses mar
e eu maré,
como se fosses onda
morrendo na praia
e eu a praia para te receber.

Acolhe-me
que eu a ti me dou
sem medos nem reservas
corpo aberto ao encontro de almas
que só a ternura percebe.

©Graça Costa






TALVEZ

Talvez chame saudade,
à lágrima teimosa espreitando no canto do olho.

Talvez chame tristeza,
àquele olhar perdido nos horizontes da memoria.

Talvez chame ternura,
ao toque da pele ou à doçura de um beijo.

Talvez chame magia,
à delicadeza subtil com que embalo as palavras
só para vos fazer sorrir.

Talvez o sonho ganhe asas
e vos faça partir,
numa viagem sem rota
rumo a um qualquer amanhecer.

Talvez estas palavras ganhem vida
só porque sim…
porque tem que ser.


© Graça Costa


terça-feira, 14 de junho de 2016

DEIXA

Deixa
que a noite invada o horizonte das memórias
e os dias sejam de eternos recomeços
ainda que errantes e incertos.

Deixa
que os teus passos
sigam os meus passos
e que a paixão seja a melodia
dos caminhos por inventar.

Deixa
que o meu corpo seja tela virgem
para o arrojo dos sentidos
e que consigas ler nos meus olhos
as cartas que te escrevo sem palavras.

Deixa-me correr ao teu encontro
com a certeza que de sabes,
exactamente como tocar-me o corpo
e a alma sentir-se beijada,

com a certeza de que basta um olhar
para te sentir dentro de mim,
meu pintor de corpos e telas,
de paixões incertas
e momentos eternos,
gravados em segundos.

©Graça Costa






quinta-feira, 9 de junho de 2016

AS MÃOS

Soberba a magia das mãos
que falam,
que gritam,
que afagam ,
que beijam,
embalam,
encantam.
Soberba a magia das mãos,
que mesmo calejadas pelas marcas dos dias
conseguem ser veludo,
seda,
cetim,
maresia,
sinfonia de afectos,
livro aberto ao entardecer.

©Graça Costa
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terça-feira, 7 de junho de 2016

FICA

Bebe-me os sentidos
como se fosses brisa e eu fosse mar.

Saboreia-me a pele
como se fosse mel
e derrete-te nos meus olhos.

Deixa que a madrugada me inunde o Ser
e o dia surja com a serenidade de uma melodia primaveril.

Deixa...
mas fica,
que o corpo pede e a alma exige
a perene entrega dos corpos em chama.

Deixa-te ficar no meu corpo feito luz,
no meu peito feito cama
e quando o sono vier,
dorme...
mas fica dentro de mim.

©Graça Costa
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sábado, 4 de junho de 2016

PLEASE

Let me reinvent hope
with the childish joy
of guitar tender weep.
From my breast
would sprout poppies
rainbows and blueberries
and from this alchemy
of affections
a all world
of new emotions will flow.

Let me reinvent hope
for the world keeps spinning
but its turning grey
and I need it
colourful
to enlighten my smile.
My smile...
the path you cross
just to caress my body.

So please...
let me reinvent hope...
I'm so tired,
I need to sleep
and sleep without your arms around me
is no sleep
just exhaustion.

Please...


©Graça Costa


EMERGÊNCIA

Sinto no corpo esta emergência
de esconder as palavras que me brotam dos sentidos.

Tapo-as com mantilha de névoa
para as preservar do caos
ao rolarem pelo corpo fora.

Tapo-as, para poder gozar o espanto nos teus olhos
quando em oferenda  te as entregar,
trémulas como cerejas carmim
incendiadas de desejo errante.

Nesse dia seremos árvore,
lamento ou grito amarrado
nas cordas do vento norte,
e as palavras o pão
com que faremos a sorte
de sermos amantes sem chão
em fogo líquido dançando.


©Graça Costa
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SEM AVISO

Quase sem aviso
o beijo aconteceu.

Como poema cantado
cresceu lentamente,
maré mansa que vira fogo
na urgência do desejo.

Perdido na ponta do medo
surgiu assustado
mas logo se agigantou
explorando os sentidos
com mestria de escultor
e delicadeza de tela pintada a pastel.

Colou-me na pele pigmentos carmim,
sugou-me a alma, o corpo e o sentir,´
tornou-me amante insuspeita
de dias calmos e noites errantes.

E do beijo nasceu a entrega,
e da entrega a melodia dos corpos em chama,
poema vivo,
salpicado por gotas de mar,
em tons de êxtase .


© Graça Costa
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sexta-feira, 3 de junho de 2016

VEM

Vem.
Vamos beber o por do sol na orla da praia,
sentir a maresia lamber-nos o rosto
e pedir ao manto da noite
que nos invada os sentidos.

Vem.
Deixa-me ser onda e tu maré,
concha com mistério de pérola,
sussurro da estrela da tarde.

Vem.
Sente-me.
Ouve-me.
Ama-me,
ou se quiseres...
abraça-me apenas.


©Graça Costa
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PALAVRAS SOLTAS

Tem noites em que sinto um toque no rosto,
quase suplica,
quase dor,
quase beijo,
quase amor.

Nessas noites sou brisa,
sou calma,
sou ternura,
sou alma,
conforto,
aconchego
que o acordar não rouba.

Nessas noites
durmo serena
e recebo o dia
com um sorriso no olhar.


©Graça Costa


NA SOMBRA DO DIA

Surgiu-me da penumbra esta sensação de luz,
este calor terno e manso
de lábios lambendo-me o rosto.

Iluminou-se-me  a alma
e um sorriso nasceu-me no olhar.

Depois foram os dedos,
Como brisa de verão,
ainda com aroma de primavera,
viraram carícia
repleta de promessas.

Um silêncio mágico invadiu a manhã.

O meu corpo transformou-se
em pauta de musica inacabada
pintado pela paleta da aurora,
expectante,
luminoso,
sedento da orquestra dançante
saída da sombra do dia que amanhecia.

© Graça Costa
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SE ESTES DEDOS TIVESSEM VOZ

Se estes dedos tivessem voz
seria de vento e de mar,
seria de brisa e de trautear o teu corpo,
com gemidos de mel
 e ternura de flores sem tempo nem estação.

Se estes dedos tivessem voz
suplicariam por violinos, harpas,
e lençóis de cetim orvalhados pelo teu perfume.
Suplicariam por pinceis e aguarelas para te pintar o perfil
e nele gravar o sentir do amanhecer nos teus braços.

Se estes dedos tivessem voz
gritariam pela tua presença dentro de mim,
pelo teu olhar preso no meu,
navegante eterno de paraísos inventados
e rotas por descobrir.

Se estes dedos tivessem voz
o amanhã estaria escrito.

O entardecer teria a melodia de uma sinfonia tocada a quatro mãos
e a noite traria consigo a magia dos rios
plena de afectos e desafios,
aberta para nos receber.

Caminhemos então…
e ouçamos,
que os dedos falam a língua dos amantes .


©Graça Costa



                                                                      Loui Jover

quinta-feira, 2 de junho de 2016

HOLD ME

Hold me close to your heart, my love.
Hold me close and speak me soft words
because my soul is lost
and I need a brand new path to carry on.

Only you can guide me,
only you can be the ground to my wounded feet
only you can be air and my food.

My skin screams for your touch.
My mouth hungers for the fountain of your lips.
Frightened I am.

My shivers invade the landscape
but the breeze serenates my soul
by bringing me back the sound of your voice.

I slightly smile
because I know
you are around
and wait...whispering your name
as if we were making love.

Then, I feel your touch,
and the world blends with our caresses.


©Graça Costa

                                                          Arvind Kolapkar

NA BEIRA DO MAR

Deixou cair o olhar num vazio impreciso
meio loucura, meio mar,
frágil como um corpo nu ao romper da aurora,
após mais uma noite entre pesadelo e  sonho.

Enleou os olhos na paisagem,
e deixou-os vaguear
perdidos no horizonte
em passos incertos,
como se o dia que raiava trouxesse prenúncio de morte.

Banhada em nostalgia,
truncada pela saudade de uma amor que nunca foi chão,
passeou pela orla do mar,
deixando a espuma das ondas tocar-me o corpo
como se fossem mãos.

Fechou os olhos, fingiu sentir o êxtase do amor por fazer
e deixou maré levá-la com o nevoeiro.

O coração dizia-lhe que estava muito para além da saudade
e o que sentia não tinha nome.
Serenidade, nostalgia,
amor, paixão, magia ?

Lançou tudo às ondas e na orla da praia esperou
o que o mar lhe traria de volta.
Esperou …
e imaginou que nome lhe daria.


©Graça Costa
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quarta-feira, 1 de junho de 2016

PEÇO À NOITE

Queria tanto que noite
soubesse o teu nome
e te trouxesse até mim.

Queria tanto que as palavras que escrevo
tivessem a cor dos teus sonhos
para as pudesses ler.

Queria tanto ser brisa
e ser onda,
ser chama
e ser pranto,
ser o teu caminho
e o teu destino.

Queria...
queria muito,
ser feliz na quietude do teu abraço,
no calor do teu beijo
no rendilhado dos teus dedos no meu corpo
e é por isso que peço,
que a noite saiba o teu nome
e te traga até mim.

©Graça Costa
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A PALAVRA E EU

A palavra habita em mim como a pele.
Comigo respira,
comigo fala,
comigo se alimenta,
comigo ama.

A palavra habita em mim,
e com a sua nudez me visto
para que despojada de mim, me encontre.

Também, com ela cresço
com ela amo
com ela me dou
através do sentir sem reservas
ou do deleite sussurrado ao amanhecer que desponta.

A palavra habita em mim
e na sua melodia
me envolvo,
me enrosco
me perco.

Nela te encontro também
e na torrente das emoções
nelas mergulho,
contigo,
e juntos inventamos um novo alfabeto.


©Graça Costa
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