quarta-feira, 27 de junho de 2018

PERDIDA

Andei perdida na vereda dos sonhos
sem saber se era sonho
ou alguma alquimia sem nome que me prendia a eles.

Por um não sei quê de esperança,
ficava e pedia para ser verdade.
Que o teu nome fosse a música que o coração pedia.
Que o teu beijo fosse o alimento que a minha pele queria.
Que a tua voz fosse o doce arrepio que me invadia o ser
e me fazia sorrir.

Perdida na vereda dos sonhos foi tanto a vida vivida
como a sonhada.

 Nela, construí futuros por inventar,
vontades indomadas de te ter,
silêncios rasgando a solidão,
abraços famintos, carregados de amor.

Foi tanto o sentir,
tão profunda ternura,
tão doces as memórias,
que dei comigo sem vontade de voltar.

Na quietude do abraço, fiquei,
com a alma em chamas e o coração a transbordar.

Depois acordei,
e o mar dos olhos tinha o teu nome.

©Graça Costa
arte : Max Gasparini

 

terça-feira, 26 de junho de 2018

SAUDADE

Imersa em silêncio e sombra espero por ti.
Espero que recordes o meu aroma
e que ele te conduza até mim na escuridão da noite.
Sentada nas memórias da dor, tento sufocar a tua ausência.

Imersa no silêncio rogo que me encontres.
 Que ainda te lembres do caminho,
 que o teu corpo se abandone ao torpor dos passos
 e o instinto da fome te conduza à lembrança
 dos dias em que vinhas de sorriso aberto
 e sede nos olhos.

 Saudades…
do calor do teu abraço,
dos beijos entrecortados de lágrimas e gemidos,
dos dias noites e das noites dia
das horas que passavam em segundos
e dos segundos que pareciam a eternidade.

Imersa no silêncio da noite, espero.
Espero, mas não desespero,
porque se o destino não te trouxer de volta a mim,
tenho tudo o que vivi
e o que vivi foi tanto !!!


©Graça Costa
Imagem da web
 
 

sábado, 9 de junho de 2018

ESCUTA

Escuta.
Mergulha no silêncio e escuta o corpo que te fala.

Ouve o clamor da pele,
e a toada triste das suas cicatrizes
quando lhes afagas o contorno da dor.

Ousa e ouve também a sua fome,
os seus desejos,
e a alquimia dos sentidos que a pele reclama.

Embrenha-te no silêncio da noite
e ouve como ela,
ora chora, ora canta
ora implora, ora dá,
no embalo de melodias por inventar.

Sem pressas,
observa cada curva,
cada poro,
cada marca.

Sente a dança dos sentidos
e deixa-te ser pele de outra pele.

Ouve e ousa
ser dona do seu sentir,
fundir-te na sua pele,
murmurar-lhe desejos de equinócios distantes,
enlouquecer de ternura,
explodir de prazer no seu ouvido.

Deixa-me explorar o limite do sentir
devagar,
serenamente,
como quem declama um poema soletrado a meia voz.

Murmúrios da pele,
sede….
desafio,
banquete de almas unidas
pela bebedeira de sentidos inquietos.

©Graça Costa


segunda-feira, 4 de junho de 2018

SE ESTES DEDOS TIVESSEM VOZ


 Se estes dedos tivessem voz
 seria de vento e de mar,
 seria de brisa e de trautear o teu corpo,
 com gemidos de mel
 e ternura de flores sem tempo nem estação.

 Se estes dedos tivessem voz
 suplicariam por violinos, harpas,
 e lençóis de cetim orvalhados pelo teu perfume.
 Suplicariam por pinceis e aguarelas para te pintar o perfil
 e nele gravar o sentir do amanhecer nos teus braços.

 Se estes dedos tivessem voz
 gritariam pela tua presença dentro de mim,
 pelo teu olhar preso no meu,
 navegante eterno de paraísos inventados
 e rotas por descobrir.

 Se estes dedos tivessem voz
 o amanhã estaria escrito.
 O entardecer teria a melodia de uma sinfonia tocada a quatro mãos
 e a noite traria consigo a magia dos rios
 plena de afectos e desafios,
 aberta para nos receber.

Caminhemos então…
e ouçamos,
que os dedos falam a língua dos amantes .


©Graça Costa
imagem da web
 

 

sexta-feira, 1 de junho de 2018

PRECISO DE TEMPO

Preciso de tempo para te construir dentro de mim.
Preciso de tempo para colorir a esperança.

De ti,
recebi as tintas
com as cores da paixão
e as tonalidades do amor sem tempo.

  Recebi, também os pincéis,
dedos em forma de ternura
trazendo luz e calor
à escuridão dos dias incertos.

Agora...
agora preciso de tempo.
Tenho este corpo tela
suplicante de vida,
gemendo a dor da tua ausência.
Tenho também as memórias
das carícias prenhes de cor e fantasia.

Preciso de tempo
para te construir dentro de mim,
e depois deixar fluir o amor
que um encontro improvável tornou certeza,
ternura,
porto seguro,
paixão
eternamente inacabada
pelas nossas mãos.

©Graça Costa

CREPÚSCULO

Carregava o crepúsculo no olhar,
quase fardo,
quase dor,...
quase esperança.


Como numa melodia de saudade,
sussurrava palavras de silêncio
envoltas em lágrimas,
e seu corpo ondulava
como numa quase perfeita
imagem de oração.

Ela carregava o crepúsculo no olhar
mas, quando sentiu o apelo da noite,
deixou o corpo flutuar
como uma pena ao sabor da corrente.

Deslizou para o colo daquele anjo,
com os braços de ternura e pele de cetim
e ali ficou, saboreando o dia que adormecia.

Cansaço.
Era tanto cansaço,
que as estrelas brilharam mais forte,
apenas para lhe iluminar o sono.


©Graça Costa
imagem da web