sábado, 29 de abril de 2017

SEM AVISO

Quase sem aviso,
o beijo aconteceu.
Como poema cantado,
cresceu lentamente,
maré mansa que vira fogo
pela urgência do desejo.
Perdido na ponta do medo
surgiu assustado,
mas logo se agigantou
explorando os sentidos
com mestria de escultor
e delicadeza de tela pintada a pastel.
Colou-me na pele pigmentos carmim,
sugou-me a alma, o corpo e o sentir,´
tornou-me amante insuspeita
de dias calmos e noites errantes,
Do beijo, nasceu a entrega,
e da entrega a melodia dos corpos em chama,
poema vivo,
salpicado por gotas de mar,
em tons de êxtase .
© Graça Costa
Imagem da web




sexta-feira, 28 de abril de 2017

O BEIJO

Beijas-me como o escultor
que acaricia o barro
para nele se fundir
devagar
como o entardecer.

Nas tuas mãos sou terra
mar e ar,
elementos em fusão
sem pressas,
sem lamentos.

Nas tuas mãos respiro
ao ritmo dos dedos
com que me envolves
e neles me derreto
como orvalho ao amanhecer.

Mais tarde,
agarro a cumplicidade da noite,
A ela ofereço os murmúrios que
no torpor da paixão
 arrancas do mais fundo de mim.

Saboreio o desejo
que pressinto os teus olhos
e colo-me a ti num beijo quente,
longo,
lento,
porque há beijos mais profundos do que o mar.


©Graça Costa
Imagem - Gustave Klimt


A ESPERA

Presa à saudade esperei a noite
em que o teu peito seria cama para o meu descanso.
Vesti-me de festa, com fios de ausência
e no esplendor da nudez
entreguei o corpo à brisa
que te traria até mim.
A brisa veio,
carregada de silêncios e presságios febris,
ao mesmo tempo que o sol morria
pintando o céu de vermelho sangue,
receios e sussurros magoados.
Quis sorrir, mas o sorriso morreu-me na garganta.

Só os olhos falavam
e diziam tudo o que eu não queira ouvir.
Fechei-os, em prece
e do fundo do Ser, gritei à noite
que te trouxesse até mim.
Sonhando acordada, escrevi na pele
um daqueles diálogos só nossos,
em que da magia dos corpos nasce sinfonia.
Esperei…
E só eu sei se vieste.

© Graça Costa
imagem Casey Baugh





segunda-feira, 24 de abril de 2017

PARADISE


Loving you
is my subtle understanding of paradise.

Skin on skin,
touch of souls.
shiny lips
after a lifetime kiss.

Paradise is right here,
and its ours to take
if we have the guts to keep on
with nos ifs and no regrets.

Just love.
Just feel.
Just believe.


©Graça Costa
imagem da web


ESCREVO-TE

Escrevo-te
porque as palavras não chegam para o que sinto…
são pequenas e banais
gastas,
supérfluas ,
incoerentes, frugais
e eu preciso delas fortes,
intensas, enormes,
eruptivas,
terapêuticas,
balsâmicas.
Escrevo-te porque as palavras que tenho para ti não têm nome.
Trago-as embaladas no peito,
presas na garganta,
gravadas na pele,
como gotas de suor após a tenaz luta do amor.
Escrevo-te com a alma nas mãos
esperando que me estendas as tuas.
Que me agarres ,
que me envolvas,
que me penetres os sentidos
com a emoção da aurora rompendo o dia.
Escrevo-te,
porque os meus olhos estão mudos
e a boca grita silêncios vários.
Só estas mãos insistem em riscar o papel
na implacável dança de aromas e sons com que construo os dias.
Escrevo-te para que me recordes assim,
despida de tudo,
despida de mim,
barro nas tuas mãos,
mosto por fermentar,
inacabada,
em espera...
©Graça Costa


sexta-feira, 21 de abril de 2017

OS SONHOS E O EU CRIANÇA

Os sonhos que sonho contigo,
têm cores ainda por inventar.

Não lhes consigo dar nome,
nem quero que ninguém lhos dê.

São minhas as cores dos sonhos.
São livres para voar,
levar-me para além dos sonhos
cantar,
calar, ousar
brincar.

Com eles nasço e renasço
invento-me e reinvento-me.
Por vezes não tenho espaço
e guardo-os nas asas do vento.

Peço-lhe segredo e sorrimos
na cumpicidade marota
de quem sabe que o vento cala
tudo aquilo que a gente sonha.

Fiquemos então assim,
guardando as cores dos sonhos
que um dia hei-de pintar contigo
naquela tela,
daquele sonho...

Sabes qual?
Eu sei que sabes…

©Graça Costa
imagem da web




PRECISO DE TEMPO

Preciso de tempo para te construir dentro de mim.

Preciso de tempo para colorir a esperança.

De ti,
recebi as tintas
com as cores da paixão
e as tonalidades do amor sem tempo.
Recebi, também os pincéis,
dedos em forma de ternura
trazendo luz e calor
à escuridão dos dias incertos.

Agora...
agora preciso de tempo.

Tenho este corpo tela
suplicante de vida,
gemendo a dor da tua ausência.
Tenho também as memórias
das carícias prenhes de cor e fantasia.

Preciso de tempo
para te construir dentro de mim,
e depois deixar fluir o amor
que um encontro improvável  tornou certeza,
ternura,
porto seguro,
paixão
eternamente inacabada
pelas nossas mãos.

©Graça Costa
imagem da web




quinta-feira, 20 de abril de 2017

PERFEITO

Insinuante,
o humedecer dos lábios antes do beijo.

Perfeito,
o arrepio da pele antes do toque.

Intensa,
a dor da expectativa,
quase ferida,
quase morte,
quando vida em suspenso.

Consome-me a espera
e liberta-se-me o sonho,
que de tanto me aguardar descansa
na curva do fim da tarde.

O aroma dos teus passos
é melodia de afectos em construção.

Espero-te
como sempre,
fome na pele
ternura no olhar.

Sinto-te antes de te ver
e na efemeridade do momento,
quase construo,
a eternidade de te ter.


©Graça Costa


imagem da web


quarta-feira, 19 de abril de 2017

NOS INTERVALOS DO AMOR

Trazia no rosto a primavera
do amor acabado de fazer,
o sorriso, quente e luzidio
como lábios de amantes após o beijo
e no corpo o cansaço de uma noite sem sono.

Trazia nos braços o
amor pintado a pincel com as cores brilhantes do arco-íris
e a recordação daquele abraço
do qual não queria regressar
tal a intensidade do sentir.

Trazia no corpo a esperança do renascimento,
a subtileza do toque
a magia do beijo,
a loucura da entrega.

Trazia tudo isso
e o mais que não dizia.

Mistérios que a paixão descobre
e a vida esconde,
para saborear a espaços,
nos intervalos do amor.

©Graça Costa




segunda-feira, 17 de abril de 2017

DIAS

Tem dias em que escrevo as dores que não consigo chorar.
Noutros,
os sorrisos tecidos a pincel,
adocicados por lágrimas mescladas de amor e mel.

Escrevo porque a alma grita,
porque o coração fala
o olhar reclama
as mãos pedem
os beijos ardem
e as palavras guardam.

Nesses dias a caneta rola-me nos dedos
como crianças em dança de roda
e tenho que as libertar,
senão sufoco.


©Graça Costa
imagem da web


sábado, 15 de abril de 2017

AMBIVALÊNCIAS

Tem noites em que sinto um toque no rosto,
quase suplica,
quase dor,
quase beijo,
quase amor.

Nessas noites sou brisa,
calma,
ternura,
alma,
conforto,
que o sono embala
e o amor aconchega.

Noutras noites sou tempestade,
furacão,
estrela cadente,
doce tortura
alma ardente,
fazendo da noite, lume,
e uma fogueira no corpo ausente.

Ambivalências de uma alma errante
num corpo de amante inquieta.


©Graça Costa
foto da web 


quinta-feira, 13 de abril de 2017

LIKE IN FAYRY TALES


One of these nights I dreamt
I was a littles autumn leave
carried away by the evening breeze.

Sometimes, the spotlight of weariness slows its senses
and the little leaf rests in some little corner of a little cozy garden.

By morning,
the mist whispers its name
and the travel begins again with no destiny.

Until one day,
so tired she was
that tears began to fall from its stalk.

You were passing by
and one sweet round salty tear
fell straight on your lips.
A shiver covered your body
and you stopped, unable to walk.

Seconds later
the little leaf touched your face
and as by magic
you caressed it.

The leaf became a hug,
the hug became a kiss
and the kiss became
the beginning of a new life.

I waked up
and you were right there next to me
and in my nakedness I found dewdrops.

My face enlightened
I wrapped myself in your heat
and let the magic paint my senses with shades of passion.


©Graça Costa
imagem da web


NO DIA DO BEIJO .... - O BEIJO

No dia do beijo, para memória futura...

<3

Beijo-te no poema,
onde as palavras perfumam as carícias,
onde posso ser espuma ou brisa,
ou espanto ,
ou medo ,
e porque sei que estás aí 
para abraçar a minha alma inquieta.
Beijo-te no poema e na carne,
na candura das palavras,
e na pele em brasa,
na loucura dos afectos 
e na quietude da tarde.
Beijo-te no poema e nos sentidos,
porque no beijo te encontro
todo entrega,
todo ternura
todo em mim
e no beijo te soletro
a ti,
parte de mim 
embrulhado em letras.

©Graça Costa
"The Kiss", David Walker, Street Art in London 





quarta-feira, 12 de abril de 2017

CORPO EM ESPERA

Surgiu-me da penumbra uma sensação de luz,
um calor terno e manso
de  lábios lambendo-me o rosto.

Iluminou-se-me  a alma
e um sorriso insinuou-se-me no olhar.

Depois foram os dedos.

Como brisa de verão,
ainda com aroma a fim de primavera,
viraram carícia nua,
repleta de magia e de promessas.

Um silêncio mágico invadiu a manhã.

O meu corpo virou pauta de musica inacabada
pintado pela paleta da aurora.

Corpo expectante,
luminoso,
ardente
deitado na penumbra do dia que amanhecia,
sedento dos teus dedos,
sedento de ti...


© Graça Costa
imagem da web - autor desconhecido


O BEIJO

Gosto do beijo que não dei...
do beijo imaginado,
desenhado nos contornos da mente.

Sinto-lhe o cheiro e o sabor,
a textura,

o calor.

Insinuante,

o beijo que não dei.

Mágico,
como tudo o que é sonho
ainda por nascer.

© Graça Costa
O Beijo" (2010), de Vik Muniz




terça-feira, 11 de abril de 2017

NÃO ME QUEIRAS

Não me queiras sem a minha alma desassossegada,
sem os meus medos e as minhas dúvidas.
Não me queiras sem o mar dos olhos,
com as suas marés
ora mansas , ora inóspitas
ora alegres, ora tristes,
intensas ou suaves,
como espuma na areia da praia.
Não me queiras sem o brilho no olhar
ao ver um filme,
ler um livro,
escutar uma música
ou simplesmente ao revisitar as memórias
de ontem e de outrora.
Não me querias sem as personagens que visto
quando a vida me corrói por dentro e fantasio a dor.
Não me queiras sem os sonhos que teço por entre as palavras
que me escorrem dos dedos,
prenhes de ternura e saudade,
daquilo que sou, que fui, ou podia ter sido.
Não me queiras sem as minhas rugas e cicatrizes
porque são elas que me iluminam o Ser
e me fazem sorrir,
quando me encontro com a mulher que sou.
Se me conseguires amar assim,
terá valido a pena
e quando chegar ao fim da estrada,
olharei para trás
e talvez...
talvez possa partir sorrindo.

©Graça Costa







O MEU AMOR

O meu amor,
tem mãos de silêncio rompendo a aurora.
Traz na pele a brisa do vento
e no olhar a promessa de dias calmos.

O meu amor,
traz a saudade na ponta dos dedos
e a ternura nos lábios de dor.
a mim se oferece como em oração,
despojado de tudo,
fruta madura por colher.

O meu amor,
traz colado na pele
o grito da paixão contida
e no peito o desespero da partilha.~

O meu amor,
dorme no meu peito.

Bebo-lhe o semblante
e parto com ele com asas no pés,
em busca de outras paisagens
em que mesmo nua,
me sinta vestida
de paixão e de esperança.


©Graça Costa
imagem da web


segunda-feira, 10 de abril de 2017

SONHOS ROUBADOS

 O dia acordou sinuoso e inquieto.

Pairava no ar um quê de mistério
e o horizonte trazia nos dedos
promessas de ternura,
em gomos de romã
e ramos de violetas.

Havia no ar uma serenidade etérea,
como se aquele dia trouxesse no rosto,
magia de sonhos roubados.

Os olhos abriram-se de espanto
pela profusão de aromas e sons que vinham de longe,
mas que pareciam sair de dentro de si.

Depressa percebeu que o seu tempo
e o seu corpo se haviam fundido naquele dia,
em que a primavera nascia
calma e serena por entre a maresia.

Fechou os olhos e sorriu 
ao sentir o raio de sol que lhe inundava o rosto.

Mordeu os lábios com sabor de romã,
vestiu-se de violetas
e esperou.

Distintamente ouviu o silêncio dos teus passos.

Vinhas a caminho,
para reinventar o sonho roubado,
e ela esperou
e sorriu para o horizonte da esperança
que ao longe nascia.


©Graça Costa
imagem : Lykke Steenbach Josephsen




PERFUME DE POESIA

Encontrei um perfume de poesia no teu olhar.

Sem saber como defini-lo
estendi-lhe o sorriso e bebi-o,
lentamente,
em silêncio,
como ritual sagrado.

Saboreei cada trago
com a dolência da paixão imprevista.

Deixei-me levar pelo arrepio da eternidade do momento.

Encontrei um perfume de poesia no teu olhar.

Vieste sem aviso mas com a força de uma maré viva
e eu recebi-te com a ternura de uma onda a beijar a areia.

Sem saber como te responder,
vesti-me de lua
coloquei nos cabelos pétalas de orvalho
e dei-me ao teu olhar em oferenda.

Depois anoiteceu…
e a noite é cúmplice de amantes inquietos.


©Graça Costa
imagem da web



FEEL ME


Run through the streets of my body
as if it were your town.
Find out the details of regret.
Board on the destination you deny,
but you can't avoid.

Feel me ...
Engage yourself in the heat of the skin,
in the groans that night silences
and the sea breeze consent.
Dare smiling to the unknown who calls you.

Hear me,
between the silence and the shout.
Learn with me speechless feelings.
Lets Invent a new language,
serene and fluid like the glitter look,
after love shared
on the turning of the tide.


©Graça Costa
imagem da web


sábado, 8 de abril de 2017

ESCOLHE

Vem.

Anda comigo beber o por do sol na orla da praia,
sentir a maresia lamber-nos o rosto
e chamar o manto da noite
para nos aquecer os sentidos.

Vem.
Deixa-me ser onda e tu maré
ou talvez concha
com mistério de pérola
brilhando à estrela da tarde.

Vem sentir o palpitar da esperança,
o arrepio da pele,
o aroma da paixão
que nasce sem ser pedida
invadindo o horizonte de afectos.

Sente.
Ouve.
Saboreia,
ou se quiseres,
fica apenas,
sereno como o anoitecer,
envolto no meu abraço.



©Graça Costa
imagem da web




quinta-feira, 6 de abril de 2017

MEDO

Sinto a correr-me nas veias
o grito do silencio
sufocado nas entranhas da terra.

Pó diamante
Carícia,
loucura
Vento,
Canção.

a beleza do grito do silêncio que calo
causa-me estranheza,
quase dor ,
comoção.

Com ela espalho magia,
poema, melancolia,
em fim de tarde marcado
pela fome do amor que promete.

Em noites de aurora boreal.
sinto correr-me nas veias,
o grito do silêncio
que pressinto nos teus olhos
e tenho medo.

Medo que eles quebrem.
Que soltem as amarras que te prendem a mim
e eu fique só
nesta luta com o vento que galga no horizonte.

Medo que fiquem apenas as memórias…
do grito do silêncio,
do pó,
das carícias,
da fome,
da magia.

Memórias…
partículas de sonho,
vividas sem ti.

Renego este medo.
Não quero ...


©Graça Costa
imagem da web


EM BUSCA DE TI

Mergulhei na noite em busca de ti,
do teu olhar meigo,
da tua pele serena e doce,
da tua paixão intensa
com sabor a mel e a maresia.

Mergulhei na noite em busca de ti.
Nela encontrei o mar dos teus afectos
e nela me tornei onda
para desaguar na tua praia.

E o mar sussurrou o teu nome.

A noite fez-se manto
e a lua fez-se caminho
para os meus passos incertos
de um amor suculento e maduro
como fruta de verão.

Mergulhei na noite em busca de ti.

E quando senti o teu toque na minha pele,
apenas sorri e deixei-me guiar
pela maresia dos sonhos,
onde a magia acontece
e a paixão ganha luz
através das tuas mãos .

©Graça Costa




quarta-feira, 5 de abril de 2017

MEU CORPO, MEU RIO

No meu corpo correm rios de afectos partilhados
e outros ainda por desbravar.

Nas suas margens, nenúfares e chorões
abraços e canções,
melodias de outono sereno estendendo os braços,
ao por do sol reflectido na placidez das águas.

Nelas, correm também rios de dor
na sua lenta caminhada até ao afluente do rosto.

Aí …desaguam,
transbordam,
rebentam comportas que ninguém vê e só tu sentes,
ecoando no silêncio surdo e melancólico do olhar.

Alguns tornam-se riachos e acabam por secar.
Outros agigantam-se e levam-te na torrente.

Nesses dias o corpo deixa de ser corpo
e passa a ser maré viva,
vento norte
tempestade,
luta,
desespero,
naufrágio.

Assim é a vida
e os corpos que nela vivem.
Nuns dias sol,
noutros trovoada.

Por vezes amor, ternura, paixão.
Outras vezes,
vazio,
quase nada,
ilusão.

Meu corpo,
meu rio…
serpenteando nas veredas do sentir
até ao mar do teu olhar.



©Graça Costa
foto de web


O VESTIDO DO SONHOS

Hoje andei vestida de sonhos
orlados de memórias,
perfumados de ternura.

Vesti-me e fiquei nua
quando eles ganharam vida 
e esvoaçaram à minha volta
como borboletas em busca da luz.

Enrolei-me num abraço solitário
e deixei-me ficar 
de olhos presos no tecto do quarto,
num êxtase infantil 
de quem sonha acordada 
com o dia que há-de vir.

Hoje...
Ahhhh
hoje andei vestida de sonhos 
e neles gravei mais sonhos
para vestir qualquer dia.


©Graça Costa
imagem da web


terça-feira, 4 de abril de 2017

O ANÚNCIO DA PRIMAVERA



Hoje sai de casa como saio tanta outras vezes.
Saí com o sol no olhar, a brisa na pele e a ternura nos ombros.
Saí porque tinha que ser,
porque o dia me chamava com um ronronar felino pleno de promessas.

Dei comigo na beira do rio contemplando as margens,
as nuances de luz
e as cores do casario reflectido nas águas.

Dei comigo aspirando o aroma da primavera ainda imberbe,
cheia de promessas de noites cálidas,
paixões ardentes como papoilas beijando a beira dos caminhos.

Hoje saí de casa como saio tantas outras vezes,
mas não era eu que caminhava.

Era o corpo que me levava à descoberta da tarde.

E o corpo tinha magia,
voz de tenor
contornos de harpa
aroma de campos silvestres,
e o valsear de corpos em fusão lenta.

Neste assombro me encontro,
prenhe de primavera
sorrindo ao fim de tarde que me escorre dos dedos.

Ao fundo,
o secreto fascínio da lua
com a sua nudez ,
sensual e insinuante
temperamental,
inconstante,
leve e densa como a noite que lhe precede.

Hoje sai de casa como saio tanta outras vezes
e regresso com a magia da noite entranhada nos sentidos.

©Graça Costa
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segunda-feira, 3 de abril de 2017

DIVAGANDO

Podia ter sido numa qualquer manhã, mas foi naquela.

Acordou com o sol a lamber-lhe o rosto e a folhagem da mata a entoar-lhe o nome num tom ritmado, quase hipnótico.

Deixou os passos fazerem o caminho que a alma pedia e num passe de luz e fantasia, encontrou-se embrenhada no meio da floresta, prenhe de vida e de desejos por revelar.

Fechou os olhos e sentiu-se vendada...
Na verdade não precisava do olhar para sentir a plenitude daquela maré de sensações encantadas, quase sensuais, como os raios de sol que lhe acariciavam o peito.

Apurou os sentidos e deixou-se levar pelos cheiros, pelos sons, pelo bater do coração.

Bebeu o néctar da terra e deixou-se embebedar pela paleta de cores que lhe estalava debaixo dos pés; paleta que não via mas intuía e lhe fazia tão bem como agua da nascente a escorrer-lhe pelo rosto.

Podia ter sido numa qualquer outra manhã, mas foi naquela.
Foi naquela que ousou despir-se de enganos e enfrentar a vida...de olhos vendados mas tão esclarecida, que mesmo vendada, nunca se sentiu perdida.

Sei que anda por perto...mas, não sei se a conhecem.


©Graça Costa


A SLOW DANCE

On my skin lay affections I can’t explain
and in the look, eyes I've not yet seen
but which presence I feel.

In my sleep I ear soft sounds from far lands.
Sweet sounds
velvety and with the smoothest of kisses.

In those days I imagine you playing for me,
me playing for you
and for the deepest corner of feeling
a slow dance erupts  from our bodies.

My heart feels your arrival.
My skin hungers for your touch
but I've learned to hold on.

Expectations lost in the wind
caress my body,
and I'm sure this music its you
thinking about me
dreaming about us.


©Graça Costa
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SONHOS DA MADRUGADA

Embriagada de insónia
enamorei-me da madrugada.

Pedi-lhe uma manhã clara
com raios de sol vibrantes
salpicados de brisa
e aroma de mar.

Pedi-lhe o calor do teu corpo
a ternura do teu abraço
o cheiro da tua pele
a textura de um beijo,
o som, precioso, da tua voz.

Enrosquei-me na tua ausência
que de tão presente se fez dor,
deixei que as lágrimas lavassem a saudade
e deixei-me levar …

O sono venceu a batalha dos sentidos.
Exausta,
adormeci nos braços da madrugada
e neles te revisitei.

Desse dia feito noite,
guardo os sonhos que inventei
e os ecos de ti que no olhar gravei.

Tesouros d´alma,
aromas de infinito,
alquimia de sentidos,
guardados na pele. 




©Graça Costa
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domingo, 2 de abril de 2017

COMO DA PRIMEIRA VEZ

Olhou-o e sentiu
a aura cálida do amor
a penetrar-lhe a pele
como se o estivesse a ver pele primeira vez.

Terna a lembrança
daquilo que foi,
sereno o desejo
daquilo que ainda pode vir a ser.

Olhou-o
e a pele falou
como se pintada pelos dedos da paixão,
sibilando aromas de terra e mar,
revelando segredos partilhados
na fusão dos corpos ao amanhecer.

Olhou-o
e agradeceu o acaso do destino,
aquele segundo de eternidade
em que o coração se inquietou
perante a imensidão
do amor que nascia.

©Graça Costa
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sábado, 1 de abril de 2017

O POEMA



O poema nasce de um quase nada
onde cabe um quase tudo.
Nasce de um som,
um gemido,
uma lágrima,
um sorriso,
uma porta entreaberta
cheia de sonhos secretos,
uma carícia,
uma flor,
uma palavra
ou apenas cor.

O Poema é dor e espanto
alegria,
desencanto.
É silêncio em que me escondo;
é chama
desejo, paixão,
encontro, desencontro, vulcão.
Nasce de um quase nada
onde cabe um quase tudo.

Com ele me visto,
porque dele sou
refém,
amante,
irmã.

©Graça Costa