Hoje saí de casa
como em tantas outras
vezes.
Saí com o sol no olhar,
a brisa na pele e a
ternura nos ombros.
Saí porque o dia me
chamava
com um ronronar felino
pleno de promessas.
Dei comigo na beira do
rio contemplando as margens,
as nuances de luz
e as cores do casario
reflectido nas águas.
Dei comigo aspirando o
aroma da primavera ainda imberbe,
mas tão cheia de
expectativas,
e paixões ardentes
como papoilas beijando a
beira dos caminhos.
Hoje saí de casa como
saio tantas outras vezes,
mas não era eu que
caminhava.
Era o corpo que me levava
à descoberta da tarde.
E o corpo tinha magia,
voz de tenor ,
contornos de harpa,
aroma de campos
silvestres,
e o valsear de corpos em
fusão lenta.
Neste assombro me
encontro,
prenhe de primavera
sorrindo ao fim de tarde
que me escorre dos dedos.
Ao fundo,
o secreto fascínio da lua
com a sua nudez ,
sensual ,
insinuante,
temperamental,
inconstante,
leve e densa como a noite
que lhe precede.
Hoje sai de casa como
saio tanta outras vezes
e regresso
com a magia da noite
entranhada nos sentidos.
©Graça Costa
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