Tinha a alma fustigada
pelas lembranças de uma paixão sem memórias.
Construíra na sua imaginação uma prisão de afectos,
atmosferas,
cheiros ,
texturas,
diálogos,
sorrisos,
lágrimas
e algumas canções.
Naquele imaginário insólito perdeu-se,
envolvendo a vida num imenso manto de solidão.
Dia a dia,
ia trocando as máscaras
com que enfrentava os olhares que se cruzavam com os seus,
vivendo sem viver,
qual espectro de luz de vela
sujeito à emotividade da brisa.
Tinha a alma fustigada por lembranças em marca d’agua,
e sofria…
Precisava sentir a chuva nos cabelos,
o sol no rosto,
o grito,
o reinventar-se
e como página em branco…
recomeçar.
Um dia ousou e tirou a máscara.
Guardou-a no armário,
e com a displicência de um guerreiro em véspera de batalha
acendeu um fósforo,
virou a costas
e ficou a ouvir o crepitar das chamas.
©Graça Costa
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