Vivo intensamente porque não sei
viver de outra maneira e escrevo porque preciso .
Se calhar, por sentir
intensamente, as palavras saem-me do controle e esboroam-se pelos poros e
dançam, redemoinham, encontraram-se desencontram-se, enamoram-se, zangam-se,
seduzem-se e quando o cansaço lhes roça a pele, deixam-se tombar para que eu as
adormeça como sei, na cama doce de papel que lhes ofereço.
Escrever é também revisitar-me
por dentro.
Nem sempre é uma viagem fácil de
se fazer.
Tem dias em que as palavras doem
como feridas abertas e parecem ser escritas a golpes de faca afiada. Nascem já
cansadas, à espera que alguém as recolha e lhes dê outro sentir.
Mas, tem outros dias em que escrever
é puro prazer, quase magia de voo, encantamento, brisa, maré cheia de afectos embrulhados
ao entardecer.
Uns e outros completam-me, alimentam-me.
Uns e outros são oferenda a quem quiser saborear, beber ou apenas afagar o
sentir que eles albergam.
Não existe monotonia nos meus
dias.
Mesmo quando o cansaço parece não
ter fim e o meu corpo luta por tempo que parece não vir, mesmo assim tudo vale
a pena, porque tudo é aprendizagem.
Quando me sinto pássaro livre
planando na madrugada ou em voo picado rumo ao horizonte do dia que começa,
vale a pena, porque me regenero, porque cresço. Quando me encontro comigo e faço da solidão uma festa, encontro-me na fusão da energia que vibra ou na maresia dos dias claros e tudo faz sentido porque sorrio. E nesse sorriso de lábios e olhos estou por inteiro porque como diz o poeta Miguel Torga:
“De nenhum fruto queiras só metade.
E nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem ( no caso mulher ), não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.”
Sou assim, feita de excessos. Dou
tudo como se não tivesse nada porque é nesta loucura que me reconheço.
©Graça Costa
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