quarta-feira, 22 de agosto de 2018

“ DE NENHUM FRUTO QUEIRAS SÓ METADE “



Vivo intensamente porque não sei viver de outra maneira e escrevo porque preciso .
Se calhar, por sentir intensamente, as palavras saem-me do controle e esboroam-se pelos poros e dançam, redemoinham, encontraram-se desencontram-se, enamoram-se, zangam-se, seduzem-se e quando o cansaço lhes roça a pele, deixam-se tombar para que eu as adormeça como sei, na cama doce de papel que lhes ofereço.

Escrever é também revisitar-me por dentro.
Nem sempre é uma viagem fácil de se fazer.

Tem dias em que as palavras doem como feridas abertas e parecem ser escritas a golpes de faca afiada. Nascem já cansadas, à espera que alguém as recolha e lhes dê outro sentir.
Mas, tem outros dias em que escrever é puro prazer, quase magia de voo, encantamento, brisa, maré cheia de afectos embrulhados ao entardecer.

Uns e outros completam-me, alimentam-me. Uns e outros são oferenda a quem quiser saborear, beber ou apenas afagar o sentir que eles albergam.
Não existe monotonia nos meus dias.

Mesmo quando o cansaço parece não ter fim e o meu corpo luta por tempo que parece não vir, mesmo assim tudo vale a pena, porque tudo é aprendizagem.
Quando me sinto pássaro livre planando na madrugada ou em voo picado rumo ao horizonte do dia que começa, vale a pena, porque me regenero, porque cresço.
Quando me encontro comigo e faço da solidão uma festa, encontro-me na fusão da energia que vibra ou na maresia dos dias claros e tudo faz sentido porque sorrio. E nesse sorriso de lábios e olhos estou por inteiro porque como diz o poeta Miguel Torga:
“De nenhum fruto queiras só metade.
E nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem ( no caso mulher ), não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.”

Sou assim, feita de excessos. Dou tudo como se não tivesse nada porque é nesta loucura que me reconheço.

©Graça Costa


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