sexta-feira, 31 de agosto de 2018

SONHAR

Quantas vezes digo a mim mesma:
Voa…
Voa mais alto,
ousa,
perde-te na imensidão do azul.
Conquista a lua
apenas com o desejo de querer abraça-la.

Faz pulseiras de pérolas com lágrimas,
colares com suspiros,
nuvens com solidão,
bailados com pétalas de estrelas
paraísos para o coração.

Sonhar é isto…
mais alto, 
mais longe, 
mais forte,
sozinha ou pela tua mão.

É ter a ternura na ponta dos dedos.
É colocar o Sentir a galope, 
num puro sangue lusitano;
é levar a imaginação para a vastidão do mar,
e usá-lo como tela 
para reescrever a história. 

No fim,
talvez a história não seja de encantar…

Mas o que é que isso importa,
se o importante mesmo
é a ousadia do Sonho

©Graça Costa


AMANHECENDO NA MINHA CIDADE

Hoje de manhãzinha dei um passeio a pé.
Sozinha, para me encontrar comigo e com os outros Eus que habitam em mim, andei sem destino nem hora marcada.
Por entre o silêncio dos passos, as paredes sussurraram-me segredos. Histórias de outros tempos, gravados nas pedras e na poeira dos dias vividos sem pressas.
Nos gemidos das suas cicatrizes, também o pulsar de uma nova vida, feita de memórias e sonhos.
Saboreio um quê de magia, na serenidade deste amanhecer na minha cidade.
Desfruto-o, com o deleite de ter na retina um fragmento de eternidade.

©Graça Costa


A ESPERA

Deixaste-me na boca um sabor a espanto,
na pele a súplica do desejo inacabado,
e a fome de mais que o dia levou.

Deixaste-me no olhar um sopro de maré viva,
uma tempestade de afectos incontidos
clamando pela noite
ou apenas pelo som dos teus passos na escuridão.

O dia passou,
lento e soturno,
mas dentro de mim,
sempre o sol
com os seus lábios de silêncio
e o paraíso no olhar,
envolvendo-me no fogo da espera
do tanto que te quero.

Depois o dia caiu no horizonte
deixando no ar promessas guardadas
no ontem que não chegou a ser.

Esperei-te.
Esperei o teu abraço
e naquele quê de dia em que a solidão termina.

Deixei-me envolver no rendilhado 
dos dias sonhados antes do amanhecer
em que os teus braços são cama
e o meu corpo
poema
pintado pelo teu olhar
colado no meu.

 ©Graça Costa
imagem - Jennifer Yoswa 


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

MELANCOLIA

O mar dos olhos transbordou
mas não eram lágrimas que lhe escorriam pela pele.
Cada gota vertia afectos à tanto guardados em cama de orvalho e mel.
Talvez por isso o seu choro não fosse pranto
mas antes chuva de embalo,
suave e melancólico como brisa na seara.

O mar dos olhos transbordou mas ela sorriu.
Sorriu com um sorriso tão doce
como beijo roubado na penumbra do sentir.

Sentiu a maré vir ao seu encontro
e recebeu-a com silêncio de amantes em espera.

Saboreou-a…
e com ela alimentou a alma naquele dia.

©Graça Costa
imagem - Miho Hirano

SENTIR

Quantas tonalidades de mar abarcam os meus olhos?
Quantas pinceladas de céu encontro nos teus?
Quanto areal dourado exposto à brisa das tuas mãos encontras na minha pele?
Olho-te e vejo uma lua cheia vibrante,
um sol endiabrado lambendo-me o rosto,
uma fonte de água fresca estendendo-me os braços.
Olho-me e vejo-me nua como tela em branco,
musa dos teus olhos
melodia para os teus beijos.
Quantas tonalidades tem o amor que fazemos na penumbra dos dias?
Para quê saber,
se é no sentir que a alma tece...

©Graça Costa
imagem da web

 

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

COMO DA PRIMEIRA VEZ

Olhou-o e sentiu
a aura cálida do amor
a penetrar-lhe a pele,...
como se o estivesse a ver pela primeira vez.


Terna a lembrança
daquilo que foi.
Sereno o desejo
daquilo que ainda podia vir a ser.

Olhou-o
e a pele falou
como se pintada pelos dedos da paixão,
sibilando aromas de terra e mar,
revelando segredos partilhados
na fusão dos corpos
ao amanhecer.

Olhou-o
e agradeceu o acaso do destino,
aquele segundo de eternidade
em que o coração se inquietou,
perante a imensidão
do amor que nascia.

©Graça Costa
imagem do Pinterest
 
 

INTERMITÊNCIAS

Intermitente,
o sorriso após o êxtase
iluminava a escuridão como vaga-lume em noite de verão.

Inquietos os dedos dos amantes
desenhavam nos corpos
palavras imprevistas,
inventadas,
inconsequentes,
letais.

Sentiu o corpo derreter como espuma,
e o olhar preso no seu
numa suplica surda
em direcção ao recomeço.

Na intermitência do sorriso,
fragmentos de dor em suspensão
mesclados com aquele prazer doce
do amor partilhado.

Sem palavas
porque desnecessárias,
supérfluas,
apenas o sorriso permanece,
como tatuagem
gravada no rosto dos amantes sem nome,
perdidos na noite que amanhece.

©Graça Costa
imagem da web


 

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

DÁDIVA

Bom quando o sorriso se solta dos lábios
e voa directo aos teus olhos.
Bom quando o beijo ganha asas
e mesmo ao de leve
consegue arrancar-te, arrepio d’alma.
Bom quando do toque da pele nasce o rendilhado da paixão,
da brisa,
a canção,
do raio de sol
a fusão dos corpos
quentes e suados como monções.
Bela a troca de olhares
que todas as línguas entendem.
Belas as palavras sussurradas ao luar,
cúmplices de noites eternas,
penetrando a aurora.
Contigo,
a suave textura do amanhecer
tem brilho de diamante
e odor de vida acabada de florir.
Contigo sou mar e chama
harmonia,
temperança,
flor do campo
luz de luar.
Contigo,
contemplo os dias
em que a saudade descansa
e visto-me de maresia
apenas para te ver sorrir.
©Graça Costa
imagem da web
 

 

AQUI ESTOU

Aqui estou,
no que ficou depois de ti,
enroscada no lamento da esperança
que morreu antes de ser mar.
 
Aqui estou,
com a sede à flor da pele
e a fome escondida na razão que já não é.
História por escrever mas já sonhada,
por viver mas já sentida,
aguarelada na aurora desflorando a madrugada.
 
Aqui estou,
nesta travessia de mim,
em busca do nós que já fomos
e do amanhã que inventamos
em cada amanhecer.
 
Aqui estou,
pedaço de mim em espera,
suspensa,
antecipando a magia do toque
da tua
na minha pele.
 
©Graça Costa
 
 

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

SAUDADE

Imersa em silêncio e sombra espero por ti.
Sentada nas memórias da dor, tento sufocar a tua ausência,
espero que recordes o meu perfume
e que ele te conduza até mim na escuridão da noite.

Imersa no silêncio rogo que me encontres.
que ainda te lembres do caminho,
que o teu corpo se abandone ao torpor dos passos
e o instinto da fome te conduza  à lembrança
dos dias em que vinhas de sorriso aberto
e sede nos olhos.

Saudades…
do calor do teu abraço,
dos beijos entrecortados de lágrimas e gemidos,
dos dias noites e das noites dia
das horas que passavam em segundos
e dos segundos que pareciam a eternidade.

Imersa no silêncio da noite, espero.
Espero, mas não desespero,
porque sei que um dia virás
e se hoje o destino não te trouxer de volta a mim,
tenho tudo o que vivi,
e o que vivi foi tanto !!!


©Graça Costa
imagem da web




 

VENCENDO O CANSAÇO



Com o marulhar das ondas gravado do olhar enfrentei o dia.
Precisava daquela paz que só o mar oferece, da doçura firme da onda a lamber a orla da praia, da brisa serena a beijar-me a pele.
Não tinha nada disso mas imaginei e imaginando vivi tão plenamente como se tivesse. Ouvi as gaivotas no seu grito faminto, a areia a chiar debaixo dos pés, os passos lentos, o horizonte brilhante, o mar de prata e neste quase paraíso imaginado agarrei o dia e fui com ele.
Quando o cansaço me invade, fecho os olhos e qual criança em dia de saudade, crio estes cenários e deixo-os entranhar-se nos sentidos como carícias. Ninguém sabe, porque ninguém vê e eu também não falo, mas só eu sei o bem que me faz esta pequena manobra de diversão, quando o cansaço me invade.
Hoje foi o mar, mas outras vezes é um campo de trigo alentejano a ondular na planície, ou uma floresta encantada de cores e aromas delicados.
Porque partilho isto hoje convosco ?
Ora, partilho porque acho que alguns de vós como eu, ficaram gratos por estas dicas para vencer o cansaço.
Haverá sempre quem ache uma tolice e eu respeito, mas comigo resulta… por isso aqui fica, para quem quiser experimentar.
Bastam uns minutos…
Beijo de Luz e um dia feliz
©Graça Costa
 
 

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

HOJE

Hoje o dia acordou com uma ténue luz nos cabelos e olhos orvalhados de cansaço.
Parecia que queria um pouco mais de noite, um pouco mais de ti e por isso agarrei-me às memorias, arrumadinhas em camadas para quase se não sentirem, e trouxe-as comigo.

Passei-as em revista, uma por uma, separei os para sempre, dos tanto faz e os tanto faz, dos não quero mesmo.
Depois um não sei quê de leveza invadiu-me o Ser, quase como se a luz nos cabelos que acordou o dia, me levasse num passeio inesperado de paz.
O dia foi passando e eu fui com ele, navegando nas águas mansas da saudade e nas lembranças de ti.

Quando regressei desenhei-te nos sentidos e enrosquei-me na tua pele, de sorriso aberto ao sonho e ao desconhecido, porque a vida não espera por quem tem medo de viver.


©Graça Costa
imagem do Pinterest
 
 
 

 

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

DE ALMA NUA

Aqui me tens
de cara lavada e alma nua.

Aqui me tens ,
resplandecente de esperanças e memórias,
gritos surdos na garganta
e melodias no olhar.

Aqui me tens,
com o desejo à flor da pele
e uma girândola de afectos
pendurada no peito.

Ama-me como fores capaz.

Liberta-me das noites sem luar.
Polvilha-me o corpo de estrelas cadentes
e quando ela morrerem no horizonte,
que a tua boca seja o guia  da noite,
e o meu corpo
a tua bússola, barco e leme
numa viagem só de ida.

Aqui me tens
neste mar revolto dos dias agrestes
em que sou tranquilidade de tardes de outono,
paredes meias
com a noite que teima em não me ver.

Aqui me tens...
Ama-me se puderes,
ou então deixa-me ficar
na curva do fim da tarde
onde a morte por vezes passa
e costuma ser branda
para os corações sem dono.

©Graça Costa
imagem da web





 

“ DE NENHUM FRUTO QUEIRAS SÓ METADE “



Vivo intensamente porque não sei viver de outra maneira e escrevo porque preciso .
Se calhar, por sentir intensamente, as palavras saem-me do controle e esboroam-se pelos poros e dançam, redemoinham, encontraram-se desencontram-se, enamoram-se, zangam-se, seduzem-se e quando o cansaço lhes roça a pele, deixam-se tombar para que eu as adormeça como sei, na cama doce de papel que lhes ofereço.

Escrever é também revisitar-me por dentro.
Nem sempre é uma viagem fácil de se fazer.

Tem dias em que as palavras doem como feridas abertas e parecem ser escritas a golpes de faca afiada. Nascem já cansadas, à espera que alguém as recolha e lhes dê outro sentir.
Mas, tem outros dias em que escrever é puro prazer, quase magia de voo, encantamento, brisa, maré cheia de afectos embrulhados ao entardecer.

Uns e outros completam-me, alimentam-me. Uns e outros são oferenda a quem quiser saborear, beber ou apenas afagar o sentir que eles albergam.
Não existe monotonia nos meus dias.

Mesmo quando o cansaço parece não ter fim e o meu corpo luta por tempo que parece não vir, mesmo assim tudo vale a pena, porque tudo é aprendizagem.
Quando me sinto pássaro livre planando na madrugada ou em voo picado rumo ao horizonte do dia que começa, vale a pena, porque me regenero, porque cresço.
Quando me encontro comigo e faço da solidão uma festa, encontro-me na fusão da energia que vibra ou na maresia dos dias claros e tudo faz sentido porque sorrio. E nesse sorriso de lábios e olhos estou por inteiro porque como diz o poeta Miguel Torga:
“De nenhum fruto queiras só metade.
E nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem ( no caso mulher ), não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.”

Sou assim, feita de excessos. Dou tudo como se não tivesse nada porque é nesta loucura que me reconheço.

©Graça Costa