Por entre a maresia da aurora
um atrevido raio de sol
acariciou-lhe o rosto.
Era doce como doce o algodão em dia de feira
e sereno, como brisa em campo de trigo.
Beijou-a com ternura infantil e subtil desejo de amante
mas nem assim conseguiu despertá-la.
Decidiu agigantar-se e como mantinha de lã, cobriu-lhe o
corpo nu.
Ouviu-a gemer baixinho e um sorriso ténue aflorar-lhe os
lábios.
Sorriu também e numa loucura, talvez insana, atreveu-se de
novo.
Deitou-se a seu lado
e soprou-lhe ao ouvido
os desejos do corpo e as angústias da
alma.
Olhou aqueles olhos ainda fechados mas já inquietos
e uma lágrima travessa caiu-lhe do rosto.
Lágrima triste,
ou lágrima de esperança;
gota de mel tombada em regaço manso
que de espanto se abriu,
num olhar intenso
de esmeralda por lapidar.
Cruzaram-se então
olhos e corpos
sorrisos e lágrimas
anseios e sonhos.
E nessa mescla de emoções e afectos
vividos ou por decifrar
deitaram fora as palavras
fundiram-se num abraço
e assim ficaram,
esperando o luar.
©Graça Costa
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