terça-feira, 4 de abril de 2017
O ANÚNCIO DA PRIMAVERA
Hoje sai de casa como saio tanta outras vezes.
Saí com o sol no olhar, a brisa na pele e a ternura nos ombros.
Saí porque tinha que ser,
porque o dia me chamava com um ronronar felino pleno de promessas.
Dei comigo na beira do rio contemplando as margens,
as nuances de luz
e as cores do casario reflectido nas águas.
Dei comigo aspirando o aroma da primavera ainda imberbe,
cheia de promessas de noites cálidas,
paixões ardentes como papoilas beijando a beira dos caminhos.
Hoje saí de casa como saio tantas outras vezes,
mas não era eu que caminhava.
Era o corpo que me levava à descoberta da tarde.
E o corpo tinha magia,
voz de tenor
contornos de harpa
aroma de campos silvestres,
e o valsear de corpos em fusão lenta.
Neste assombro me encontro,
prenhe de primavera
sorrindo ao fim de tarde que me escorre dos dedos.
Ao fundo,
o secreto fascínio da lua
com a sua nudez ,
sensual e insinuante
temperamental,
inconstante,
leve e densa como a noite que lhe precede.
Hoje sai de casa como saio tanta outras vezes
e regresso com a magia da noite entranhada nos sentidos.
©Graça Costa
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