quinta-feira, 26 de julho de 2018

OS RIOS DO MEU CORPO

No meu corpo correm rios de afetos partilhados
e outros ainda por desbravar.

Nas suas margens, nenúfares e chorões
abraços e canções,
melodias de outono sereno
estendendo os braços ao por do sol
refletido na placidez das águas.

Nelas, correm também rios de dor
na sua lenta caminhada até ao afluente do rosto.

Aí …desaguam,
transbordam,
rebentam comportas que ninguém vê e só tu sentes,
ecoando no silêncio surdo e melancólico do olhar.

Alguns tornam-se riachos e acabam por secar.
Outros agigantam-se e levam-te na torrente.

Nesses dias o corpo deixa de ser corpo
e passa a ser maré viva,
vento norte
tempestade,
luta,
desespero,
naufrágio.

Assim é a vida
e os corpos que nela vivem.
Nuns dias sol,
noutros trovoada.

Por vezes amor, ternura, paixão.
Outras vezes,
vazio,
quase nada,
ilusão.

Meu corpo,
meu rio…
serpenteando nas veredas do sentir
até ao mar dos teus olhos


©Graça Costa
imagem da web

 

BATENDO NO FERROLHO DA ALMA

Hoje a saudade bateu-me no ferrolho da Alma.
Trazia no colo memórias enfeitadas de outros tempos, daqueles tempos em que o fazer sentido não era de todo importante. Importante era mesmo ... sentir.
Belas as memórias desses tempos, em que o sentir era mesclado de carinho, especiarias, canela e açúcar em calda; em que o cruzar do olhar continha uma miríade de afectos, sonhos, desejos e paixões e onde mesmo as não vividas tinham história para contar.
...
A saudade bateu no ferrolho da Alma e eu abri-lhe a porta.
Despi-lhe o casaco e convidei-a a entrar.
Acariciei-lhe o rosto e ela sorriu, grata pela atenção.
No silêncio da tarde, enchi o quarto com as memórias que a saudade trazia no colo.
Nem todas eram doces e belas, mas todas eram inteiras, vibrantes de vida, de alma, de dor...por vezes impregnadas de lágrimas feridas, à tanto tempo sofucadas no peito nu.
A saudade bateu no ferrolho da Alma e deixei-a entrar.
Ficámos assim, olhos nos olhos, bebendo-nos no silêncio das palavras não ditas porque desnecessárias.
Incondicional a dádiva da saudade.
Nunca vem pela metade.
Quando bate no ferrolho da Alma, parece furacão em busca de colo. Redemoinha, pede, bate, implora.
Hoje abri-lhe a porta e vou ficar a ouvir-lhe o lamento, escutando a magia do que ficou depois do vivido e se recusa a partir.

© Graça Costa

 

CONVERSANDO COM O SILÊNCIO

Existe no silêncio
um luar de nuvens mansas
uma alma secreta...
de murmúrios vestida.
uma doçura tamanha,
que só de o prever já me embalo
no seu sentir.

Só quem conversa com o silêncio,
tem alma para sentir o poema
que antes de o ser já dança na retina,
penetra a pele com a intensidade de um beijo
e desperta a fome
do amor vivido em firmamentos distantes.
Oxalá a noite me doure os sentidos,
me crave na pele a vontade de me dar
e que o canto da minha voz,
não seja voz
mas pele…
sedenta de outra pele.


©Graça Costa
imagem da web

 
 

sexta-feira, 13 de julho de 2018

WITHIN THE STORM


Lets make love as the tempest sings
and may the taste of our kisses fly
in the wings of dawn
throughout the day.

Lets play with time
dance with the playing song
of the rain against the window
as your fingers burn my skin
and your lips swallow my being.

Lets be poetry writers with no words
and as the tempest sings
may the silence of our bodies melting  in one another
with no guilt
and no worries
be the perfect portrait of peace
within the storm of life.

 ©Graça Costa
IMAGEM DO PINTEREST
 
 

MINHA ALMA POR TI LIBERTA


Existe nos seres quebrados pela vida
um quê de humano que me comove.

 Uma centelha de luz
 uma lágrima de esperança
 uma doce amargura na voz…

Não sei como definir
mas sei que sinto.

 A pele estremece.
 O mar dos olhos transborda.
 A maré de afectos esmaga-se contra a comporta do sentir
 e pede liberdade para agir.

E eu vou…impelida não sei porque energia…mas vou.
E acreditem…

Quanta magia descubro nos seres quebrados pela vida…
Quanta força me dão sem o saberem…
Quão grata fico à sua dádiva.

Quantas vezes te agradeço nas minhas preces,
a ti,
Ser quebrado pela vida
mais humano, generoso e verdadeiro
que muitos que por mim passam a toda a hora.

Agradeço-te…
em nome da minha alma por ti liberta.


©Graça Costa
imagem da web