Um dia roubaram-me a vida e eu não percebi.
Entrei no hipnótico
caminho da dorcom a leveza de uma bailarina em pontas,
sem ver que, com o passar dos dias,
os pés, tal como a vida começavam a sangrar.
Depois, parei e pensei :
um dia esta dor ainda
me vai ser útile deixei-a engrossar, como torrente de lava encosta abaixo.
No desamparo do silêncio das noites em branco,
alimentei a ira e o
desencanto;derramei as lágrimas caladas durante os dias que corriam velozes,
como velozes nasciam as marcas no rosto e os fios de prata no cabelo.
Depois, um dia cresci.
Libertei a ira e
resgatei do fundo de mim o efémero sentir dos humanos.Despertei do torpor de uma alma esfiampada
e lenta mas persistentemente
lancei-me na reconstrução de mim.
cresço e renasço com cada janela de esperança que abro.
Junto-lhes alguma estravagância guardada no ventre da saudade,
adiciono uma pitada de desejo,
e deles retiro
o meu pão,
o meu mel,
o sal com que tempero o tempo que resta.
©Graça Costa
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