segunda-feira, 25 de setembro de 2017

DA MINHA ESSÊNCIA

Energia e matéria

harmonia de contrários
luz …terra
vento…mar
fogo…maresia.


Assim me sinto
na soma do tempo que passa.

Errante,
na candura dos sonhos.
Guerreira,
na tempestade dos dias.


Vivo no equilíbrio perene
do conceito e do verbo;
do pronome e do advérbio.


No desafio da descoberta,
enfrento o eterno talvez,
o complexo Se…
o carinho,
a paixão,
a emoção da dádiva,
o desabrochar do coração.


Nele me reencontro,
e com ele me reinvento
fugitiva de mim
presa no Ser que sou...
essência,
magia,
doçura,
pó …



©Graça Costa



domingo, 17 de setembro de 2017

OS RIOS DO MEU CORPO

No meu corpo correm rios de afetos partilhados
e outros ainda por desbravar.

Nas suas margens, nenúfares e chorões
abraços e canções,
melodias de outono sereno
estendendo os braços ao por do sol
refletido na placidez das águas.

Nelas, correm também rios de dor
na sua lenta caminhada até ao afluente do rosto.

Aí …desaguam,
transbordam,
rebentam comportas que ninguém vê e só tu sentes,
ecoando no silêncio surdo e melancólico do olhar.

Alguns tornam-se riachos e acabam por secar.
Outros agigantam-se e levam-te na torrente.

Nesses dias o corpo deixa de ser corpo
e passa a ser maré viva,
vento norte
tempestade,
luta,
desespero,
naufrágio.

Assim é a vida
e os corpos que nela vivem.
Nuns dias sol,
noutros trovoada.

Por vezes amor, ternura, paixão.
Outras vezes,
vazio,
quase nada,
ilusão.

Meu corpo,
meu rio…
serpenteando nas veredas do sentir
até ao mar dos teus olhos


©Graça Costa
imagem da web


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

PEDAÇOS D'ALMA

Olho-me no espelho e vejo o cansaço, a dor, o desalento.

No corpo, as cicatrizes,
os sinais da luta inglória e insane,
em busca de um melhor amanhã que tarda em chegar.


Procuro no olhar, a esperança,
nas mãos estendidas, o recado silencioso,
o resgate de um abraço,
alimento para o dia que começa.
Assim me visto de crepúsculo e chama,
de candura e lama
de ousadia, fome e fantasia.


Oleira de mim,
construo o que as mãos permitem
e a pele aceita
sabendo que a obra visível
e a sonhada, sentida,
raramente são comparáveis.


Aquilo que para uns será sol,
para outros será nevoeiro, vento e maresia.

Vejo-me a cores, a grafitte ou a pastel.
Como me vêm os outros?
Não sei…
Não sei se quero saber.

Sou como sou...
Ainda que ferida, 
guardo a beleza da dor
e o esplendor da dádiva,

ofereço a candura do abraço
e a plenitude do ser.

Assim sou…
Inteira,
porque não sei ser de outro modo.

Assim me dou...
A quem tiver Alma para me sentir.

©Graça Costa