quinta-feira, 4 de novembro de 2021

SEM QUERER

Encontrei-te sem aviso nem procura. Senti-te na pele e guardei-te no peito antes de te ter. Saboreei a espera como quem contempla o amanhã sem pressa e construi-te de alma solta e coração aberto. Da dor de acordar sem ti fiz descoberta, terreno fértil para este quê que crescia e que eu sem te ver, tanto sentia. Encontrei-te sem aviso sem procura sem querer. Mas a vida quis e eu quis com ela. ©Graça Costa Imagem do Pinterest

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

DIAS


Tem dias em que escrevo as dores que não consigo chorar.
Noutros,
os sorrisos tecidos a pincel,
adocicados por carinhos
e mescladas de amor e mel.
Escrevo porque a alma grita,
porque o coração fala
o olhar reclama
as mãos pedem
os beijos ardem
e as palavras guardam.
Nesses dias a caneta rola-me nos dedos
como crianças em dança de roda
e tenho que as libertar,
senão sufoco.
©Graça Costa
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terça-feira, 2 de outubro de 2018

SONHOS ROUBADOS


O dia acordou sinuoso e inquieto.
Pairava no ar um quê de mistério
e o horizonte trazia nos dedos
promessas de ternura em gomos de romã e ramos de violetas.

No ar, uma serenidade etérea
como se aquele dia trouxesse no rosto alvo,
a magia de sonhos roubados.

Os olhos abriram-se pelo espanto
da profusão de aromas e sons que vinham de longe,
mas que ao mesmo tempo pareciam sair de dentro de si.

Depressa percebeu que tempo, espaço e corpo
se haviam fundido naquele dia,
que era brisa e maresia
e ao mesmo tempo amante em espera envolta
na primavera nascia,
calma e serena por entre a maresia.

Fechou os olhos e sorriu ao sentir o raio de sol que lhe inundava o rosto.
Mordeu os lábios com sabor de romã,
vestiu-se de violetas e esperou.

Ao longe, o gemido de passos familiares...
lentos,
ousados,
prenhes de planos loucos e esperanças várias,
como doçura de amor reinventado
em cada beijo lançado ao anoitecer.

©Graça Costa
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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

REENCONTRO

Hoje lancei as mágoas
ao vento que passava por perto.

Fechei a porta.
Mergulhei no silêncio em busca de mim,
sabendo que me encontraria
nos pedaços de ti
que tenho guardados no peito.

Bebi o aroma da tua pele,
lavei a alma com memorias do teu olhar,
saciei-me no teu corpo imaginado
e deixei que a serenidade dos afectos
me envolvesse a pele
em chama lenta,
como lentos os teus beijos,
quais arrepios de morte com sorriso nos lábios.

Hoje lancei as mágoas
ao vento que passava por perto.

Vesti-me de brisa,
e no encantamento da noite deixei-me voar
em direcção ao teu abraço.

©Graça Costa
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EU E NÓS

Nesta distância entre mim e mim
guardo o espaço do Nós.
Rego-o com a calma das noites sem sono 
e a ternura do amanhecer sem pressas.

Sagrado, o espaço do Nós.
Escrito letra a letra,
desenhado a pincel 
com uma paleta de cores indistintas ,
doces como aurora boreal
dançando no horizonte da esperança.

Sagrado o espaço do Nós
porque nele descanso,
renasço,
cresço,
porque nele te tenho,
vestido de afecto,
despido de engano.

Envolto em Luz,
o espaço do Nós
tem a magia da eternidade
gravada no toque da pele;
tem fragmentos de luz nos olhares
e farripas de saudade,
docemente guardadas nas gavetas do sentir.

©Graça Costa
imagem do Pinterest 


A GUERREIRA

Cai a noite e tudo se transforma.

A guerreira vira pássaro,
flor,
princesa, ou arlequim,
misto de flor e de seda,
azul, prateada, carmim.

Bendita a cumplicidade da noite que tudo permite.
Sonho,
fantasia, dança,
brisa, sal, maresia, festim.

Do descanso da guerreira
agora lua, feiticeira, amante,
emerge a magia da palavra dita apenas com o olhar;
o convite da chama que arde sem se notar.

E o imprevisto acontece,
como acontece o Amor em dias incertos.

Doce a noite em que me deito
com o cansaço na pele e a ternura na voz.

Efémera noite, eu sei…
mas tão cheia de sonhos por cumprir.
A ela me entrego
com a nudez mais terna
e faço do seu abraço ,
uma homenagem ao dia que promete.


©Graça Costa
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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

URGÊNCIA

Digam-me como conter a urgência ?
O que fazer quando sentes a pele rebentar de emoções,
e as palavras a borboletearem-te na cabeça,
incessantes,
intensas,
frenéticas ?
Digam-me como conter a urgência de ternura ?
Como pedir, sem pedir
lábios carnudos e sedentos de beijos
carícias, lamentos,
paixão,
a emoção do dar e receber
que antes de ser já se sente?
Digam-se, como viver sem sentir?
Porque não sei e não quero,
ser espectro errante sem alma
imagem de gente, mas não Pessoa.
Digam-me como conter a urgência de amar,
para que eu a acorrente no peito
e o mar não a leve com a mudança da maré.

©Graça Costa
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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

SONHA

Quantas vezes digo a mim mesma:
Voa…
Voa mais alto,
ousa,
perde-te na imensidão do azul.
Conquista a lua
apenas com o desejo de querer abraça-la.

Faz pulseiras de pérolas com lágrimas,
colares com suspiros,
nuvens com solidão,
bailados com pétalas de estrelas
paraísos para o coração.

Sonhar é isto…
mais alto, 
mais longe, 
mais forte,
sozinha ou pela tua mão.

É ter a ternura na ponta dos dedos.
É colocar o Sentir a galope, 
num puro sangue lusitano;
é levar a imaginação para a vastidão do mar,
e usá-lo como tela 
para reescrever a história. 

No fim,
talvez a história não seja de encantar…

Mas o que é que isso importa,
se o importante mesmo
é a ousadia do Sonho

©Graça Costa
imagem do Pinterest


terça-feira, 25 de setembro de 2018

PEDAÇOS D'ALMA

Olho-me no espelho e vejo o cansaço, a dor, o desalento.
No corpo, as cicatrizes,
os sinais da luta inglória e insane,
em busca de um melhor amanhã que tarda em chegar.


Procuro no olhar, a esperança,
nas mãos estendidas o recado silencioso,
o resgate de um abraço,
alimento para o dia que começa.
Assim me visto de crepúsculo e chama,
de candura e lama
de ousadia, fome e fantasia.
Oleira de mim,
construo o que as mãos permitem e a pele aceita
sabendo que a obra visível
e a sonhada, sentida,
raramente são comparáveis.
Aquilo que para uns será sol,
para outros será nevoeiro, vento e maresia.


Vejo-me a cores, a grafitte ou a pastel.
Como me vêm os outros?
Não sei…
Não sei se quero saber.
Sou como sou...
Ainda que ferida guardo a beleza da dor
e o esplendor da dádiva,

ofereço a candura do abraço e a plenitude do ser.
Assim sou…

Inteira,
porque não sei ser de outro modo.
Assim me dou...
A quem tiver Alma para me sentir.

©Graça Costa




DÁDIVA

Bom quando o sorriso se solta dos lábios
e voa directo aos teus olhos.
Bom quando o beijo ganha asas
e mesmo ao de leve
consegue arrancar-te, arrepio d’alma.
Bom quando do toque da pele nasce o rendilhado da paixão,
da brisa,
a canção,
do raio de sol
a fusão dos corpos
quentes e suados como monções.
Bela a troca de olhares
que todas as línguas entendem.
Belas as palavras sussurradas ao luar,
cúmplices de noites eternas,
penetrando a aurora.
Contigo,
a suave textura do amanhecer
tem brilho de diamante
e odor de vida acabada de florir.
Contigo sou mar e chama
harmonia,
temperança,
flor do campo
luz de luar.
Contigo,
contemplo os dias
em que a saudade descansa
e visto-me de maresia
apenas para te ver sorrir.
 
©Graça Costa
imagem : Raluca Vulcan